Nossos cartunistas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de junho de 1979
O editor Werner Zotz conseguiu não só provar as possibilidades de manter uma editora destinada exclusivamente a publicar autores regionais, como também colocar os seus lançamentos - Editora Beija Flor - em escada nacional. Hoje, os livros que tem editado regularmente - uma média de 2 novos títulos por mês, impressos na M. Cavalcanti Ltda. - já estão nos principais pontos de vendas do Brasil - aliás tão carente de livrarias. E a imprensa nacional vem dando um justo e merecido apoiamento ao trabalho de Zotz. Há 3 semanas, Tela Negrão, da sucursal de Curitiba do "Jornal do Brasil", publicou bela matéria no "Suplemento do Livro" sôbre os lançamentos da Beija Flor. Sábado, 2/6/79, no caderno de leituras do "Jornal da Tarde", Álvaro de Moya, professor da USP, estudioso de quadrinhos e cartuns, coordenador do livro "Shazam"- antologia de ensaio sobre quadrinhos, publicado há 6 anos, dedicou um longo comentário a "Pra Mim, Chega", que reúne cartoons de Tiago, Solda, Ret-tamozo (organizador do livro), Miran, Douglas e Dante. Álvaro Moya, após destacar a importância de ser feito um livro com trabalhos de jovens de outros Estados, salienta que "não se trata aqui de individualizar, dizendo que esta é melhor, aquele é mais cáustico, outro melhor traço, mais perene, um influenciado por Henfil, outro por Luiz Sá, um traço mais firme, outro principalmente. Texto mais literário, texto mais popular. Melhor rendimento de reprodução, linhas melhores no original, expressão direta e conteúdo subjetivo ou unidade e criatividade. Trata-se isso sim, de um trabalho coletivo, atuante, político, positivo, e que, graças a um livro, pode estender-se a outras praças e servir de parâmetro para estudos nacionais. Oxalá outras editoriais locais possam continuar editando esses quixotescos Sanchos Panças tropeçando em Roncinantes, atacando o Moinho do Sistema". Aliás, aproveitando a deixa, duas observações: uma das falhas, em nosso entender, nesta antologia foi a ausência de Pancho, cujas charges, com traços únicos, um espírito crítico dos mais atuais e conscientes, há muito mereceriam ter uma edição nacional - sugestão aliás que passamos a Faruk El Khatib, da Grafipar - que, talvez estimulando agora pela aceitação do livro da Beija Flor decida também a utilizar o seu extraordinário conhecimento de marketing editorial, relacionamento e a distribuição de suas publicações através da Abril, para dar seqüência ao pioneirismo de Werner Zotz. Mais um trecho do comentário de Álvaro de Moya, que merece transcrição: "Já dizia o insubstituível Dom Rosé Cavaca que - mais ou menos - "os humoristas lutam hoje por um mundo cada vez menos humorístico". A amargura dos cartunistas pós 64 está presente aqui não só no humor, ou na falta de, mas também no próprio traço. Curiosamente, essas linhas estão próximas dos traços da Europa Oriental.
Estes, hoje, estão mais engraçados. Os sociólogos que decifrem esta. De nossa parte, destamos o fenômeno partindo da arte do desenho e do humor brasileiro. Dizem as más linguas que o carioca está cada vez mais paulista e perdendo o tradicional humor. Quem sabe a salvação não está no Paraná ou noutras plagas? Em Brasília, seguramente, não está".
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