O custo do "Espírito" e uma rajada de acusações de César
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de agosto de 1990
Constantino Viaro, que retornou há duas semanas da Europa, surpreendeu-se ao verificar que o contrato do músico Celso Renato Loch ("Pirata"), advogado da Prefeitura de Curitiba e professor de sonoplastia do curso de artes cênicas, para fazer a direção musical de "New York por Will Wisner" é de Cr$ 250.000,00 - superior a do diretor adaptador Edson Bueno, que recebeu Cr$ 200 mil. A carioca Rosa Magalhães, conhecida carnavalesca de escolas de samba do Rio de Janeiro, e que em Curitiba tem sido privilegiadíssima com generosos e constantes contratos de "cenografia" e "figurinos", receberá Cr$ 170.000.000,00 por este trabalho para uma produção totalmente financiada pelo governo do Estado - e que, se esperava, também nesta área beneficiasse algum profissional local (existem talentos que há tempos não vem tendo chances de aqui desenvolverem seus trabalhos, pela insistência de se buscar profissionais cariocas).
Cada um dos intérpretes desta montagem receberá Cr$ 32.000,00: Isabel Karas, Claudinei Miguel Mendes, Maurício Kennedy Vogue, Roberto Martins dos Santos, Rafael Veiga de Camargo, Rosane Ferreira Egídio, Jianine Távora, Silvia Maria Monteiro, Antônio Carlos Falat, Alcedi Lopes da Silva, Carlos Enéas Lour e Isabel Milani.
Baseado em duas "novelas gráficas" do quadrinista Will Eisner - mas nas quais o seu mais famoso personagem, "The Spirit", não aparece (na adaptação de Bueno, "O Espírito" vira uma espécie de mestre-de-apresentações interpretado pelo ator Aldeci Lopes), a produção está tendo fartos recursos. Por exemplo, só um painel luminoso no palco custará Cr$ 9 mil em manutenção, uma bailarina (Maria Coelho Drumont) foi contratada por Cr$ 32 mil e existe até uma "administradora de ensaios" (Maria Regina Vogue). Sem dúvida, que Edson Bueno não pode mais ficar reclamando de falta de mecenato oficial para o seu talento. Vamos agora aguardar os resultados desta tentativa de fazer teatro com quadrinhos americanos, tema que não tem absolutamente nada a ver com nossa realidade. A propósito: se a peça der certo, Edson viajará para Nova Iorque pois seu sonho é conhecer a Big Apple.
César Bastos, que se identifica como ator - mas que a classe artística diz desconhecer - em carta manifesto, xerocada, sem trazer seu endereço, distribuída aos veículos de comunicação (e também para alguns políticos da oposição) dispara uma metralhadora giratória no meio teatral. Bastos faz críticas a profissionais, instituições e, especialmente, dirigentes culturais. No final, diz que "sou ator e sei que depois desta carta a única saída será deixar Curitiba". Embora suas flechas nem sempre tenham o alvo certo, em alguns casos - como nas críticas a política da Fucucu em gastar milhões de cruzeiros privilegiando artistas de outros Estados - o protesto de César Bastos tem a sua validade e talvez sirva de alerta ao prefeito Jaime Lerner.
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