O som internacional de Egberto
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de abril de 1978
Na intensa programação musical na próxima semana, dois dos mais caros espetáculos do ano estarão sendo apresentados no Teatro Guaíra. O maestro e compositor Burt Bacharach, que vem com orquestra e bailarinos, num espetáculo em que une o som ao visual com duas únicas apresentações, na noite de quinta-feira, dia 6 - (20 e 22 horas). Custa, em termos de produção, incluindo salários dos músicos e bailarinos, hospedagem, transporte, equipamento etc., mais de Cr$ 500 mil.
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Egberto Gismonti, que estréia na sexta-feira, dia 7 para uma temporada de 3 dias, na mesma sala, tem um espetáculo que fica em torno de Cr$ 50 mil por dia. Apesar da diferença em relação a Bacharach, é, assim mesmo, um alto custo de produção, o que faz com que o mineiro Willer Butika (William José de Mattes), responsável pela firma Rubyblue que empresa a atual tournée de Gismonti por 8 capitais, seja no mínimo um homem corajoso. Sem dúvida em dos criadores musicais de maior importância, com reconhecimento amplo no Exterior, onde tem feito longas temporadas e gravado muitos discos, Gismonti, pela primeira vez, está saindo do eixo Rio-São Paulo. A música que produz é do mais alto nível, tendo passado, há muito, dos limites do popular. Isso, de um lado, lhe dá uma dimensão internacional, mas por outro o limita seu público.
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Um disco que Gismonti gravou há pouco mais de um ano em Oslo, com o percussionista Nana Vasconcelos ("Dança das Cabeças", que a Odeon está colocando nas lojas no Brasil nesta semana) foi escolhida pela revista "Melody Maker" (para muitos a mais importante publicação de música do mundo) como um dos 10 melhores discos de 77. A crítica internacioanal consagrou este disco,
que dá nome ao espetáculo que Gismonti traz agora a Curitiba. Disse um dos críticos daquela revista: "A música de Gismonti é extraordinariamente lírica e sensual. É fantástico, simplesmente fantástico. Se você tem interesse em música, Gismonti lhe deslumbrará com a pureza devastadora e a profundidade de seu som eterno. Sem datas ou fronteiras". Outro crítico, Mick Brown, da revista "Sound", escreveu: "Dança das Cabeças" é um vitorioso tour de force: "o Sr. Gismonti toca violão de oito cordas, piano e flautas de madeira. Tem muito, muito mais acontecendo neste disco do que é possível descrever. É um desses discos que você tocará para sempre, indefinidamente, nos momentos mais preciosos".
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Junto com Gismonti, músico múltiplo, desdobrando-se entre o piano acústico, flautas de madeira, violão e vocal, vem o grupo Academia de Danças, da qual fazem parte Mauro Senise (sax e flauta), Zeca Assunpção (baixo acústico), Zé Eduardo (bateria, percussão) e Marlui Miranda (vocal). Marlui, aliás, é uma das maiores promessas da MPB para 1978: violonista e compositora, além de belíssima voz, já esteve em Curitiba, num show com Jards Macalé no Teatro do Paiol, há dois anos.
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Mas a semana musical tem outras atrações: na segunda-feira na Festa dos Melhores de 78, que Antonio Carlos Rocha, do programa "Comunicação da Cidade" promove, estarão Beth Carvalho, Originais do Samba e Maria Martha, cantora revelação de 1977. E, a partir do dia 10, reiniciando a segunda fase do Projeto Pixinguinha, uma dupla sensacional: Paulinho da Viola e Canhoto da Paraíba. Mas sobre eles falaremos depois.
LEGENDA FOTO 1 - Egberto
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