Observatório
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de abril de 1980
O cineasta Wladimir Carvalho, professor da Universidade de Brasília, mais de 20 documentários e o longa-metragem mais demoradamente interditado, "O País de São Saruê", só liberado no ano passado, mostrou espírito esportivo e bom humor. Apesar do redutivo público na "Parceria Inédita", no Paiol, segunda-feira à noite - o prefeito Jaime Lerner viajou e com isto nem os diretores da Fundação Cultural de Curitiba por lá apareceram - falou sobre cinema nacional, abordando os problemas com seriedade e inteligência. E prometeu que quando "O País de São Saruê" for lançado em Curitiba, volta aqui, numa prova de que, ao contrário de tantos "gênios" de nosso cinema, sabe dar importância a um trabalho mais de perto para promover seus filmes.
A professora Philomena Gebran, da cadeira de História da América do Sul da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de regresso de viagem de pesquisas no Norte Pioneiro, onde esteve recolhendo dados para completar sua tese de mestrado, fez questão de permanecer mais um dia em Curitiba, por uma razão especial. Assistir à encenação de "Noite de 18 ou 19 de Julho de 64 - Os Jardins da Esplanada Vaticana" ou "Nero", de Maria de Jesus Coelho, que, segunda-feira à noite, abriu o II Ciclo de Leituras Dramáticas. É que além de ser grande amiga de Maria de Jesus, poeta, contista e extraordinária pessoa humana, Philomena foi, entre 1966/67, quando morava em Curitiba, a pioneira na espontânea forma de leitura de peças inéditas. Em sua agradável residência, na Rua Emiliano Perneta, semanalmente reuniam-se jovens interessados em teatro, para leitura de peças. Hoje, muitos dos que participavam daquelas reuniões estão em outros Estados ou no Exterior, alguns ocupam posições de importância, mas todos guardam com grande carinho aquela época, importante no desenvolvimento cultural de cada um.
Philomena Gebran, com cursos de Antropologia Musical em Paris (1960/62), ex-professora da Universidade Federal do Paraná e que teve marcante atuação na vida cultural paranaense, inclusive através da revista "Forma" e galeria de arte "Toca", está se dedicando gora a concluir sua tese de mestrado, que abordará um tema tão inédito quanto polêmico: a influência colonialista e exploradora paulista no Norte Pioneiro. Ao longo de 3 anos de demoradas pesquisas e estudos, Philomena reuniu dados que provam de que o chamado ciclo do café, entre 1890-1940, no chamado Norte Pioneiro, não contribuiu em nada para a riqueza do Paraná - ao contrário, somente para o seu empobrecimento. Mesmo antes de defender a tese - o que fará em novembro - Philomena já tem convite da Paz & Terra, para a qual tem feito traduções de importantes livros (o próximo a sair será "Ouro e Moeda", de Pierre Wilard), para publicação deste seu trabalho.
Se "Camões - O Poeta e o seu Canto", de Emílio Siqueira Pitta - que o define como "epopéia náutica em 2 atos", não pode estrear no auditório do Sesi, por falta de fôlego financeiro do autor-produtor, ao menos o texto saiu publicado, em edição financiada pelas Secretarias da Cultura, Educação, Consulado de Portugal e Comissão organizadora do 4º centenário de Luís de Camões. Para montar a peça - cujos ensaios haviam sido iniciados há mais de um mês. Pita necessita Cr$ 500 mil, e cancelando a temporada, já acumulou prejuízos de Cr$ 350 mil.
Há 3 anos, em produção modesta, com patrocínio do Curso Camões, do lusitano Carlos Alberto Sanchez, Pita levou a mesma peça no auditório da Reitoria, mas agora a produção ficou por demais onerosa.
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