Paraiba, teatro machô, sim senhor!
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de outubro de 1975
Três espetáculos de muita brasilidade foram trazidos ao Paraná por grupos amadores da Paraiba, numa revelação a muitos espectadores da linguagem ("As Velhas"), de uma forma regional de comunicação (Cordel) e da obra de um poeta ingenuamente surrealista (José Limeira - 1890-1954). Participando do III Festival Nacional de Teatro Amador de Ponta Grossa (20 a 29 de outubro, realizado sem a merecida promoção), os grupos Facma, Cactus e do Teatro Santa Rosa, o primeiro de Campina Grande e os dois outros de João Pessoa, mostraram também em Curitiba (sábado e domingo, Teatro do Paiol) estes espetáculos sinceros. "As Velhas", encenado pelo grupo de Campina Grande, com direção de Antonio Câmara, foi uma mostra de linguagem do agreste paraibano, recolhida pela professora Maria de Lourdes Ramalho, que conservou no texto toda a pureza da comunicação dos sertanejos, e que, para ser entendido pelas [platéias] do Sul, exigiu inclusive a distribuição de um pequeno dicionário. Já com maior esmero técnico, o grupo oficial do Teatro Santa Rosa, mostrou seis estórias de Cordel, compiladas e adaptadas pelo baiano Orlando Sena, com direção de Rubens Teixeira, e que tiveram a surpresa de revelar, em vários e diferentes personagens uma bela e sensivel atriz paranaense, Vanda Lúcia Miculis, da cidade de Prudentópolis há 3 anos fazendo teatro em João Pessoa. Por último, "O Mundo Louco do Poeta Zé Limeira", com o subtitulo de "um quase musical nordestino sobre os doidos da Paraiba", foi uma tentativa de revelar a obra e o mundo do violeiro repentista Zé Limeira, bastante conhecido na Paraiba e que hoje já ocupa um destacado lugar na história da poesia matuta nordestina. Embora confuso (no que contribui o próprio regionalismo da linguagem) e misturando problemas políticos-administrativos do Estado, à obra do poeta do povo, o espetáculo montado pelo grupo Cactus, também foi surpreendente. Viajando em ônibus por mais de 4 dias, sem buscar qualquer remuneração e intencionados apenas em mostrarem um pouco da cultura popular daquele Estado a desinformadas platéias sulinas, os 30 rapazes e moças que hoje fazem sua última apresentação em Ponta Grossa, merecem os aplausos. E confirmam que honestidade de propósitos e amor às coisas do povo, valem muito mais do que alocubrações experimentalistas e montagens pretenciosamente hollywoodianas, em termos de comunicação e representatividade cultural.
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