Teatro para o povo?
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de dezembro de 1977
A campanha "Teatro para o povo" teve início ontem, e ingresso para qualquer teatro de Curitiba pode ser adquirido, a preço popular, nas Kombis que estão situadas em locais centrais. A Praça Generoso Marques, Torre de Informação da Rua das Flores e Biblioteca Pública, em frente às lojas Americanas, foram os locais escolhidos pela Fundação Cultural para que as vendas sejam efetivadas.
Não há dúvida de que a campanha levará um grande número de pessoas a assistir teatro, e feito por paranaense, o que é ótimo. Mas entre seu objetivo inicial e sua execução ficou uma distância bastante grande, que poderiam ter sido diminuída, em relação aos anos anteriores, caso a Fundação Cultural assim tivesse desejado.
Para a seleção das peças que participaram da campanha, a Fundação adotou como principal critério onde as peças seriam apresentadas. O objetivo da campanha, que é elogiável, é o de levar teatrais a um público que não conhece esse tipo de espetáculo. Ocorre, porém, que esta parte da população, que vê nos teatros um "bicho de sete cabeças", continuará não freqüentando esses locais, embora os preços sejam mais acessíveis do que comumente se cobra por um ingresso.
A Fundação solicitou aos grupos interessados, que pesquisassem locais que pudessem atrair a população que não costuma freqüentar teatros. Assim foi que Claudete Pereira Jorge e Nautílio Portela, formados pela escola de teatro do Guaíra, depois de analisarem diversos pontos da cidade, escolheram a Igreja Bom Jesus, na Praça Rui Barbosa, ponto final do Expresso, e deixaram ainda como opção para a Fundação Cultural, a Diretoria de assuntos Culturais. Na escolha do espetáculo, optaram por "Morre um gato na China", de Pedro Bloch.
A proposta dos atores não foi aceita pela diretoria da entidade, que alegou ser a Igreja um local inadequado para uma apresentação teatral, e que Pedro Bloch não era um autor popular.
Dessa maneira, a campanha "Teatro para o povo, será realizada no Teatro Guaíra, no Paiol e Teatro Universitário, quando poderia perfeitamente atingir seu objetivo básico, e que deveria ser único, caso abrise mão da exigência de utilizar apenas locais já convencionados para realmente levar teatro para o povo.
TENDA DOS MILAGRES
Tem início hoje a terceira semana de Cinema Ibero-Americano, na Espanha, no qual Nelson Pereira dos Santos representará o Brasil com seu filme Tenda dos Milagres", baseado na obra de Jorge Amado. O filme concorrerá a premiação na categoria de longa-metragens, juntamente com "Cantata de Chile", do Cubano Humberto Solas; "Que es el otono", do argentino David José Kohon; e "Os Demônios do Alcácer Quibir", do português José Fobs Fonseca Costa. Na categoria curta-metragem concorrem "Enterrar a los muertos", do panamenho Pedro Rivéra; e "El templo de la sabidura", do espanhol José Jimenez.
Por seu filme "Tenda dos milagres", Nelson Pereira dos Santos, de 49 anos, recebeu apoio da crítica européia, quando ele foi exibido no XXVII Festival Cinematográfico de Berlin. Para o crítico de La Stampa, de Turin, Itália, o filme tem "rara expresividade de linguagem" e faz uma profunda investigação cultural e etnológia na história brasileira.
O filme trata fundamentalmente do problema da integração do africano na sociedade, e todas as lutas de discriminação racial por ele travadas, a opressão e o preconceito. As cenas ocorrem principalmente na Faculdade de Medicina, onde os professores seguiam teorias racistas européias, a serviço de uma ideologia de dominação. Jards Macalé é que interpreta Archanjo, um estudante consciente destas teorias racistas adotadas na universidade, e por isso tenta mudá-las.
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