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Aramis

Poema: cidade

Da floresta para a cidade. É "Poema: cidade", uma tentativa de abordagem cinematográfica tão vanguardista quanto a obra do personagem focado - o poeta Augusto de Campos. É um curta para ser curtido por quem se liga às suas correntes - e seria, aliás, um bom programa de complemento a "Cinema Falado", o filme-polêmica de Caetano Veloso, reconhecidamente um discípulo dos irmãos Campos, os mesmos que têm no curitibano Paulo Leminski outro integrante de sua "tribo" desde o início dos anos 60, quando o concretismo começou a sair das páginas do "Caderno de Domingo" que Reynaldo Jardim editava no "Jornal do Brasil" para chegar a uma jovem intelectualidade de vanguarda. Com depoimentos de Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Cid Campos e J. Jota de Moraes, "Poema: cidade" é autodefinido por seus autores como "a poesia audiovisual captada pelo cinema: som, imagem, ação". Assim, a ação é o discurso sobre a expressão. "A própria expressão, entendida enquanto um elemento ativo no cotidiano do homem", diz Tatá Amaral, acrescentando: "Poema: cidade" traduz a comunicação rápida e fragmentada do homem urbano moderno que se dá através de seus sentidos imediatos de captação: ver/ouvir. Os curtas estrangeiros O júri de curta-metragem foi integrado por Paul Deluc (diretor de "México Insurgente", já visto várias vezes em Curitiba, e "Frida", exibido "hours-concours" no FestRio-85 e premiado no Festival de Cuba do ano passado), o crítico francês Robert Greller, da "Revista du Cinema" (e que presidiu o júri), o cineasta iugoslavo Pedrag Goldovic (diretor do Instituto Estatal de Cinema de seu país); a sra. Violeta Arraes Gervaisseau, residente em Paris e que há anos é uma espécie de anjo-protetor dos cineastas brasileiros na França, e por este repórter. Uma das preocupações do júri foi ouvir da parte do crítico Ronaldo F. Monteiro, vice-diretor da Cinemateca do MAM-RJ e assessor especial do FestRio, que, em várias viagens internacionais, selecionou longas e curtas metragens para a competição, os critérios para a vinda dos filmes em competição. No caso dos curta-metragens, Ronaldo resumiu numa frase a dificuldade: "De joelhos. Assim tivemos que fazer para obter o número mínimo de curtas para a competição." Alguns países - como Canadá, Áustria, Holanda e EUA - nem consideraram a hipótese de enviarem curtas-metragens. Na França, de 17 curtas que assistiu, Ronaldo selecionou o que lhe pareceu mais interessante - "Planeta Surprise", de Jean-Luc Blanchet, uma viagem imaginária de um colecionador de imagens - hermético e pouco comunicativo. A URSS enviou um desenho animado, convencional e acadêmico. Mesmo de países com tradição no cinema de animação - como a Polônia e Checoslováquia - vieram trabalhos pouco interessantes como "Beton" (Concreto) e "Jeho Excelence" (Sua Excelência), respectivamente. Tendo o poder como tema, o desenho checo - sobre um dia na vida de "Sua Excelência" - nada acrescenta de novo. "Beton", realização do polonês Marek Serafinsky, mostra um herói lutando contra um enorme bloco de concreto - que derruba mas esmagando-se a si próprio. Outro trabalho de animação vindo da Polônia - "Smiec" (Sujeira), de Zbigbiew Knapczyk - fala sobre um homem obcecado por sujeira. No seu apartamento ele mata uma mosca e a joga na cesta do lixo. Depois livra-se da cesta jogando tudo na lixeira. As imagens de sujeira o perseguem: jornais arrastados pelo vento e pontas de cigarro voando à sua volta. Ele imagina uma criança presa na lama, uma parede de papel que o envolve e pilhas de trastes que o atormentam. Da República Federal da Alemanha veio o curta mais longo que provocou até piadas de alguns jornalistas: afinal de um país que tem filmes como "Aleksander Platz" (de Fassbinder), com 13 horas, "é natural que o curta dure 20 minutos". "Parachute", de Sabine Eckhard, foi uma ficção, com uma atriz - por sinal bonita e boa intérprete - que recebe cartas anônimas que contêm uma série de fotos que lhe dizem respeito. As fotos a confundem, atormentam e por fim a fascinam. Mas não há propriamente uma história e fica a sensação de uma parábola, influenciada até por um estilo de Godard. Aliás, a fotografia - excelente, em preto-e-branco - é de Raoul Coutard, que fez as imagens de muitos clássicos da "Nouvelle Vague".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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02/12/1986

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