A emoção de Gerônima
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de dezembro de 1986
Já na primeira sessão em que foi apresentado, às 8 horas da manhã do dia 25, para a imprensa, a opinião foi geral: ganharia no mínimo o troféu da OCIC (Organização Católica de Cinema), que destaca os filmes de maiores valores humanos. E não deu outra: praticamente por unanimidade, o júri da OCIC escolheu "Gerônima", do argentino Raul Alberto Tasso, para este troféu.
Realizado com mínimos recursos, mas com profunda carga de emoção, "Gerônima" foi comparado a "Vidas Secas" pela aridez e profundidade de sua temática e citado como o "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho, deste 3º FestRio, em termos de emoção humana. Esteticamente, ganhou críticas e até bolas pretas, mas humanamente foi o filme mais importante do FestRio. Baseado no livro do escritor Jorge Alberto Tosso, também responsável pelo roteiro junto com Carlos Rafael Paola, o filme focaliza uma personagem real - Gerônima, uma mulher mapuche que é praticamente destruída pela "ajuda", supostamente bem intencionada, dos que queriam retirá-la, junto com seus filhos, do ambiente de miséria em que vivia. Há um aspecto antropológico em "Gerônima", rodada nos locais onde os fatos aconteceram (Traplaco, General Roca, El Cuy e Patagônia), que lhe dá uma dimensão maior. Impressionante também a interpretação de Luísa Calcumili, uma atriz também de origem mapuche, que depois de um trabalho na elaboração da personagem fez uma recriação perfeita. Presente no FestRio, Luísa Calcumili era lembrada, desde a apresentação do filme, como uma das favoritas da premiação.
Marco Aureciu Marcondes, o homem de comercialização da Embrafilmes, está confiante: "A Ópera do Malandro", lançamento ainda este ano, deve se tornar um grande sucesso de público. Afinal, além do magnetismo que o nome de Chico Buarque (que viajou para Cuba, na semana passada, e só apareceu no Hotel Nacional para assistir "Cinema Falado", de seu amigo Caetano Veloso), o filme de Ruy Guerra tem outros motivos para agradar ao público: é um musical de muito ritmo, excelente coreografia, boas interpretações. Edson Celulari, como o malandro Maxoverseas ganhou vários votos (inclusive o nosso) no júri da imprensa para a escolha do prêmio de melhor ator. As músicas de Chico ganharam muito na transposição ao cinema, mesmo aquelas que foram acrescentadas à trilha sonora original da peça.
Ruy Guerra, 55 anos, nascido em Moçambique, 30 anos de Brasil, dentro do cinema novo a partir de "Os Cafajestes" (62) e "Os Fuzis" (63), confirma ser um diretor dos mais seguros. O filme tem aquele ritmo de quem sabe o que deseja mostrar na tela e tanto quando faz um drama como "A Queda" ou uma adaptação literária ("Erendira", 83, várias premiações internacionais), consegue ótimos resultados.
LEGENDA FOTO - "Gerônima": sucesso com poucos recursos.
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