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Aramis

Uma "Ópera" com o melhor sabor (e som) brasileiro

Ruy Guerra preferiu dar ao lançamento de "Ópera De Malandro" um tratamento ao inverso: o levou inicialmente a Quinzena dos Realizadores, em Cannes, no ano passado, lançou-o posteriormente em Paris e Nova Iorque, participou em vários festivais internacionais, e em novembro, humildemente, o inscreveu como representante do Brasil no III FestRio. Foi o filme que mais entusiasmou ao público e arrancou aplausos da crítica. Uma transposição livre da peça de Chico Buarque - por sua vez livremente inspirada em "A Ópera Dos Três Vinténs" de Brecht e "A Ópera Do Mendigo" de John Gay - resultou numa comédia fascinante, com excelente coreografia de Regina Miranda, belíssima fotografia, interpretações marcantes e, naturalmente, a esplêndida trilha sonora - lançada ainda no ano passado pela Polygram (que anteriormente já havia editado o álbum duplo com as canções da montagem teatral e um outro disco, com as músicas do filme em interpretações diferentes). A ação de "Ópera De Malandro" se passa no Rio de Janeiro, em 1941 - época risonha e franca nos cabarés da Lapa, nas quais Max (Edson Cellulari), cafetão elegante e charmoso, explora Margot (Elba Ramalho), dançarina que trabalha num cabaré dirigido por Otto Strudell (Fábio Sabag), alemão que controla a exploração de prostitutas. Uma noite, quando Max negocia um pequeno contrabando com marinheiros americanos, o rádio anuncia o ataque a Pearl Harbor e a destruição da frota norte-americana por aviões japoneses. Ele, seus homens e os marinheiros vão ao cabaré de Strudell, onde os "Integralistas" comemoram o acontecimento. Max provoca os fascistas e o cabaré é destruído. Tigrão (Ney Latorraca), delegado que acoberta os negócios de Otto Strudell e ex-amante de Margot, prende os espectadores, a exceção de Max, seu amigo de infância. Este início de sinopse já mostra o lado político que Chico Buarque/Ruy Guerra impregnaram ao roteiro, que numa linguagem musical - declaradamente inspirada nos musicais da MGM (que Guerra afirma terem marcado sua infância) e com elementos de Romeu e Julieta, já que Max Overseas acaba apaixonando-se por Ludmila (Cláudia O'hana), a filha do alemão Strudell. TRABALHO EFICIENTE - Moçambicano, 56 anos - a serem completados dia 22 de agosto, realizador de um dos filmes marco do Cinema Novo ("Os Cafajestes", 1962), Ruy Guerra tem colecionado prêmios com seus filmes de diferentes gêneros: "Os Fuzis" (1963), "Sweet Hunters" (1969, inédito no Brasil), "Os Deuses E Os Mortos" (1970), "A Queda" (1977), "Erêndira" (1983) e este "Ópera De Malandro", levado ao FestRio e premiado como melhor direção - exibido posteriormente no Festival Latino Americano da Havana. Chico Buarque disse sobre o filme: - "Minha peça era uma mistura do original de John Gay com o Bertold Brecht e diferente deles também, temperada com elementos bem brasileiros. No filme de Ruy Guerra praticamente desaparecem o Gay e o Brecht, o que fica é o nome "Ópera", um filme emocionante e cheio de alegria". Ruy Guerra foi lacônico para definir sua nova obra: - "Ópera De Malandro" é uma falsa ópera com verdadeiros malandros. Isso já vem do texto de Chico. O filme apenas caminhou nesse sentido, virando ainda tudo mais pelo avesso, com muita música, dança e alegria, como o gênero da comédia e o público estão no direito de exigir. Só que com um pouquinho de malandragem". O filme é extremamente bem sucedido. Musical e coreograficamente entusiasma, a história bem desenvolvida, pitadas políticas e ideológicas e ótimas atuações (Cellulari quase levou o prêmio de melhor ator no FestRio). No elenco estão ainda J. C. Violla como Geni (atualmente interpreta "Nijinski" peça de Naum Alves de Souza, num teatro paulista), Wilson Grey (marcante como Sátiro Bilhar), Maria Silvia (Victoria Strudell), Cláudia Gimenez (Fiorella), Andréa Dantas (Fichinha), Djenane Machado (Shirley Paquete), Luthero Luiz (Porfrio), entre outros - de um grande elenco. Na trilha sonora, ouve-se "Novo Malandro", "Muchachas De Copacabana" (cantada por Elba Ramalho), "Hino Da Repressão" (Ney Latorraca, afinado), "Aquela Mulher" (Edson Cellulari, revelando-se também cantor), "Sentimental" e "Último Blues" (Cláudia O'Hana, a mais fraca como cantora), mais "Viver De Amor", "Desafio Dos Malandros", "Maxixes", o belíssimo "O Meu Amor" (Elba e Cláudia) e mais a voz de Suely Costa dublando Maria Silvia em "Canção Desnaturada". LEGENDA FOTO - Edson Cellulari e Cláudia O'Hana em "Ópera De Malandro": um musical nacional de primeira categoria.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
18
24/04/1987

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