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Aramis

Repercussão nacional das vaias a Elizeth

Extravasam os limites de um simples incidente os graves fatos ocorridos no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, sexta-feira última, quando um público mal educado recebeu com vaias, assovios, gritos e palavrões o belíssimo espetáculo de Elizeth Cardoso e da Camerata Carioca. Mas do que a frustação artística, que é natural, houve a preocupação de se ver um projeto idealizado há 6 anos em favor da valorização da MPB manipulado politicamente com sentido demagógico. Em momento algum os artistas se colocaram contrários a que a Companhia de Habitação de Curitiba (Cohab - CT) adquirisse os 2 mil ingressos para distribuição entre moradores de seus núcleos residenciais como parte das comemorações dos 20 anos de fundação da empresa. O que se questiona é se foi a forma adequada de oferecer um espetáculo que, embora de música popular (da melhor qualidade), não seria aquele que o público-alvo desejava. Afinal, sempre que há uma promoção de portas abertas, há necessidade de informar previamente o público do que se oferece -ara obter bons resultados. Não foi isso, em absoluto, que a Cohab-CT e a infeliz Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte (sic) fizeram. Se bem conduzida, uma promoção pode levar a boa música às faixas mais humildes da população sem que haja constrangimento. Já mais de uma vez a Camerata Antiqua, com um repertório aparentemente "difícil", mereceu aplausos entusiásticos de um público humilde que lotou o Guaíra, durante promoções nas quais a Fundação Cultural abriu as portas do teatro. xxx A humilhação imposta a artistas da dimensão de Elizeth Cardoso e dos jovens da Camerata Carioca, vai alcançando repercussão nacional. Um vasto relatório a respeito está nas mãos da diretoria da Funarte, com cópias inclusive para a presidência da Petrobrás, que está financiando o Projeto Pixinguinha. O deputado Luiz Aberto Martins de Oliveira, líder da oposição, leva à Assembléia veemente protesto contra a falta de critério e estrutura da Secretaria da Cultura e do Esporte na promoção do Projeto Pixinguinha, que há três semanas vem fracassando em Curitiba, em virtude da falta de divulgação e suporte técnico, a tal ponto que não foi possível sequer a iluminação adequada do espetáculo do último fim de semana, porque a Fundação Teatro Guaíra não dispõe nem de opções de "gelatina" para os refletores. Ao deixar Curitiba, na manhã do último sábado, acabrunhada e magoada, Elizeth dizia que nunca imaginou que viesse a experimentar tamanho constrangimento em nossa cidade. Os integrantes da Camerata Carioca manifestaram igual decepção pelos fatos aqui ocorridos. Tudo pela incompetência e desorganização da Secretaria da Cultura e do Esporte, em repassando todo o lote de ingressos para a Cohab-CT, para obter dividendos político-eleitorais de uma promoção cultural.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
22/08/1985

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