Repercussão nacional das vaias a Elizeth
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de agosto de 1985
Extravasam os limites de um simples incidente os graves fatos ocorridos no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, sexta-feira última, quando um público mal educado recebeu com vaias, assovios, gritos e palavrões o belíssimo espetáculo de Elizeth Cardoso e da Camerata Carioca.
Mas do que a frustação artística, que é natural, houve a preocupação de se ver um projeto idealizado há 6 anos em favor da valorização da MPB manipulado politicamente com sentido demagógico. Em momento algum os artistas se colocaram contrários a que a Companhia de Habitação de Curitiba (Cohab - CT) adquirisse os 2 mil ingressos para distribuição entre moradores de seus núcleos residenciais como parte das comemorações dos 20 anos de fundação da empresa. O que se questiona é se foi a forma adequada de oferecer um espetáculo que, embora de música popular (da melhor qualidade), não seria aquele que o público-alvo desejava. Afinal, sempre que há uma promoção de portas abertas, há necessidade de informar previamente o público do que se oferece -ara obter bons resultados. Não foi isso, em absoluto, que a Cohab-CT e a infeliz Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte (sic) fizeram.
Se bem conduzida, uma promoção pode levar a boa música às faixas mais humildes da população sem que haja constrangimento. Já mais de uma vez a Camerata Antiqua, com um repertório aparentemente "difícil", mereceu aplausos entusiásticos de um público humilde que lotou o Guaíra, durante promoções nas quais a Fundação Cultural abriu as portas do teatro.
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A humilhação imposta a artistas da dimensão de Elizeth Cardoso e dos jovens da Camerata Carioca, vai alcançando repercussão nacional. Um vasto relatório a respeito está nas mãos da diretoria da Funarte, com cópias inclusive para a presidência da Petrobrás, que está financiando o Projeto Pixinguinha. O deputado Luiz Aberto Martins de Oliveira, líder da oposição, leva à Assembléia veemente protesto contra a falta de critério e estrutura da Secretaria da Cultura e do Esporte na promoção do Projeto Pixinguinha, que há três semanas vem fracassando em Curitiba, em virtude da falta de divulgação e suporte técnico, a tal ponto que não foi possível sequer a iluminação adequada do espetáculo do último fim de semana, porque a Fundação Teatro Guaíra não dispõe nem de opções de "gelatina" para os refletores.
Ao deixar Curitiba, na manhã do último sábado, acabrunhada e magoada, Elizeth dizia que nunca imaginou que viesse a experimentar tamanho constrangimento em nossa cidade. Os integrantes da Camerata Carioca manifestaram igual decepção pelos fatos aqui ocorridos. Tudo pela incompetência e desorganização da Secretaria da Cultura e do Esporte, em repassando todo o lote de ingressos para a Cohab-CT, para obter dividendos político-eleitorais de uma promoção cultural.
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