Requião conta estória do bruxo da conta 100
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de julho de 1984
O deputado Roberto Requião é o mais novo escritor de estórias infantis no Paraná. Sua estréia acontece com "O Bruxo da Conta 100", que sai com uma circulação considerável: 100 mil exemplares, distribuídos pelo Correio nesta semana.
Classificação o texto de "estória pouco infantil" e abrindo com uma frase de Esopo ('Rindo se censura os costumes"), Requião aborda, em sua estória, a questão dos transportes urbanos, tentando explicar, na linguagem mais simples que encontrou, um assunto relativamente complexo: o cálculo da depreciação dos ônibus ao longo de cinco anos, o que, segundo Requião, vem sendo fraldado pelos empresários do setor.
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Depois de se referir ao "Seu Bigode, prefeito da Capital da República dos Pinheirais., Requião, através da "velha violinista, a mais velha e sábia pessoa da cidade", conta aquilo que é o chamado "Milagre do Buxo da Conta 100".
...Era uma vez, um lindo ônibus, comprado por uma empresa, e que devia durar cinco anos. Como devia durar cinco anos, era depreciável vinte por cento ao ano. Essa depreciação era cobrada na tarifa e, ao fim de cinco anos, ele estaria pago.
Quando o ônibus completou quatro anos e festejava aniversário veio um bruxo e disso:
- Você não pode morrer com apenas cinco anos: vou dar mais cinco de vida.
Então, o onibuzinho que com quatro anos de vida, já estava pago oitenta por cento (4 x 20%), passou a ser depreciado dez por cento ao ano, por mais seis anos, e esse valor foi jogado na tarifa. O povo pagando.
Quando o onibuzinho já estava com dez anos, surgiu, de novo, no seu aniversário., o bruxo, que lhe deu mais dois anos de vida. E o ônibus foi depreciado por mais dois anos, embutindo, a cada ano, oito por cento na tarifa.
Finalmente, já velho e trôpego, o onibuzinho deixou o serviço ativo e foi vendido, por dês por cento de seu valor, para algum teatrinho da roça.
E a velha violinista, sentado no tamborete, à sombra da figueira, com o violino na mão, continuava a explicar. Quando fecha a conta 100%, o ônibus está pago. Devia sair de linha, ou sua depreciação não deveria mais freqüentar a tarifa. Mas o que ocorre não é bem isso. A vida do ônibus vai sendo prorrogada a favor da "honorável irmandade". Nos primeiros quatro anos, o ônibus foi depreciando em oitenta por cento; depois, em mais sessenta por cento, em seis anos; em seguida mais dois anos e oito por cento; e finalmente, vendido por dez por cento de seu valor. Somando tudo, dá cento e sessenta e seis por cento. Tudo isso pelas artes do bruxo da mágica Conta 100".
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Desde que se dispôs a lutar contra as elevações constantes das tarifas nos transportes coletivos de Curitiba, o deputado Roberto Requião passou a reunir todos os dados possíveis a respeito. Esteve em São Paulo, observando como o prefeito Mário Covas enfrentou os empresários do setor. Para divulgar as complexas planilhas que baseiam os cálculos das tarifas, Requião está usando sua formação de jornalista - diplomado pela Universidade Católica do Paraná - e portanto não se importa de investir grande parte do que ganha como parlamentar, para custear o "Informe Reservado"- cujo primeiro número provocou muita polêmica - e malas diretas, como a que está distribuindo agora a milhares de curitibanos.
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