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Aramis

Robinson sexual

Entre uma visão semi-antropológica a uma quase- tragédia grega, "Selvagem Despertar"(Cinema 1, hoje último dia em exibição) é um dos filmes mais inquietantes do ano. Adulto. Vigoroso, forte em sua temática, resvalaria para o dramalhão barato e pornográfico, se não fosse o pulso de George C. Scott, que neste seu segundo longa metragem revela-se tão bom diretor quanto é, há mais de 20 anos, intérprete. Com apenas três personagens, "The Save Is Loose", tem, propositalmente, uma linguagem densa, pesada - mas com poucos diálogos, e cuja ação é claramente dividida: nos primeiros 50 minutos, um estudo antropológico em termos da aculturação de um casal civilizado frente a um novo tipo de sociedade: náufragos numa ilha deserta. John (George C. Scott), decide educar o único filho, David (Lee H. Montgomery, quando menino) de acordo com a lei da selva, a lei do mais forte - única maneira para garantir a sua sobrevivência no futuro. A mãe (trish Van Devere), entretanto, mulher sensível e que não consegue adaptar-se ao selvagem meio, ainda tenta transmitir ao garoto uma visão civilizada. Quando adulto, David (já então interpretado por John David Carson) desperta para o sexo e uma selvagem desejo incestuoso transforma o equilíbrio familiar. Não é esta a primeira vez que o cinema aborda o relacionamento sexual entre náufragos - e já há 24 anos, Luís Bañuel, numa versão de "Robinson Crusoe" do romance de Daniel Defoe (17 - 18) examinou as supostas relações homossexuais entre Robinson e "Sexta-Feira". Em 1956, John Huston em "O Céu Por Testemumha" (Thew Heaven Knows, Mr Allison), colocava a situação de forma diferente: um "mariner" (Robert Mitchum) e uma religiosa (Deborah Kerr), perdidos numa ilha do Pacifico, durante a II Guerra Mundial, também tem um relacionamento tumultuado, a partir dos desejos carnais. Entretanto, o roteiro de Mas Ehlich e Frank Der Felitta, é original e corajoso na colocação do incestuoso trio. A forma narrativa pela qual Scott optou é clara, dialética: oferece na primeira parte os dados sócio-antropológicos ao espectador, explicando o comportamento posterior do jovem. Assim como, há 4 anos, em seu primeiro trabalho de direção ("Fim de Uma Angústia/The Rage, 1973), o espectador ficava ao seu lado, interpretando um angustiado pai, que ao ver o seu filho vítima de uma mal sucedida experiência bacterialógica, decide destruir o laboratório responsável pelo projeto. Aos 50 anos, ex-oficial da Marinha dos Estados Unidos, formado em jornalismo pela Universidade de Missouri, carreira que trocou pelo teatro (em 1953, interpretando "Ricardo III" na Broadway teve sua grande chance), George C. Scott é um homem de posição claras e definidas: em 1957, por sua interpretação em "Antomia de um Crime"(Anatomy Of Murder, de Otto Premiger), foi indicado pela primeira vez ao Oscar, mas não recebeu o prêmio. Irritado, há 4 anos, quando lhe concederam afinal a estatueta (por sua criação de "Pattom", de Franklin Schaffner), recusou-a publicamente. E, indicado novamente (por "Hospital") tornou a ignorar esta tardia consagração ao seu talento de ator. Talento que, a julgar por "The Save Is Loose" não se restringe a interpretação - mas sim como diretor, homem de propósitos série, embora polêmicos. Este filme merece ser visto, entre outros aspectos por trazer uma trilha sonora (de Gil Melle) que, como há muito não acontecia, integra-se dramaticamente a ação
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
04/05/1977

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