Romance de Chico e Edu foi adiado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de fevereiro de 1987
"O Romance das Quatro Luas", o bailado com músicas de Chico Buarque e Edu Lobo e libreto do poeta Ferreira Gullar não estreará em março. Definitivamente não! Afinal, embora contratualmente o trabalho musical devesse estar pronto em novembro do ano passado, só há poucos dias foram entregues as partituras do balé.
E as partituras - repousando no cofre da superintendencia da Fundação do Teatro Guaíra - não possibilitam ensaios. Para isto, será preciso uma fita gravada em estúdio, com a música e as canções. Edu Lobo, que faz agora seu terceiro balé para o Guaíra, tem uma razoável desculpa pelo atraso: a greve dos músicos no Rio de Janeiro, em busca de melhores salários, impediu as gravações - a serem feitas possivelmente com patrocínio da Continental, que lançará, por sua conta, o disco.
O pagamento a Chico, Edu e Ferreira Gullar já foi feito: Cz$ 680 mil cruzados. Cz$ 600 mil líquidos, distribuídos entre os três. E Cz$ 80 mil de imposto de Renda que, contratualmente, foi exigido com pagamento à parte.
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O primeiro bailado que Edu Lobo, 44 anos, fez para o Guaíra foi "Jogos de Dança", em 1981. O trabalho nasceu por acaso: Edu encontrou o jornalista Arakem Távora, paranaense, há 20 anos radicado no Rio, e lhe falou de seu desejo de produzir um balé, já que, em 1973 já havia realizado uma "missa" (sem a repercussão merecida na época). Amigo pessoal do então governador Ney Braga, Arakem transmitiu-lhe a intenção do autor de "Arrastão" e como Ney sempre foi um entusiasta por música e teatro não teve dúvidas; determinou que a Fundação Teatro Guaíra contratasse Edu para escrever o bailado.
"Jogos de Dança", com uma música moderna (editada em elepê pela Sigla/ Som Livre) teve grande repercussão. O que animaria, no ano seguinte a ser encomendado um novo trabalho, desta vez em parceria com Chico Buarque e libreto de Naum Alves de Souza: "O grande Circo Místico", inspirado em poema de Jorge de Lima, o espetáculo teve coreografia de Carlos Triencheiras e direção cênica de Emílio Di Biase (que anteriormente já havia montado com o TCP "O Contestado", de Romário Borelli).
"O Grande Circo Místico", idealizado e produzido na administração Ney Braga, estrearia, ironicamente, dois dias após a posse de José Richa que, todo garboso, foi assisti-lo. Oracy Gemba, que substituiu a Aldo de Almeida na superintendencia da FTG, entendeu a importância do espetáculo e soube aproveitá-lo: durante três anos "O Grande Circo Místico" foi levado a várias cidades e inclusive a Lisboa, sempre com sucesso.
Um êxito tão grande - Em São Paulo, por exemplo, permaneceu semanas em cartaz no "Palace" - que animaria o superintendente José Basso a repetir o esquema e convidar Chico e Edu para fazerem um novo trabalho. Desta vez escolheram um tema nordestino, inspirado em literatura de cordel, e para escrever o libreto foi convocado o poeta maranhense Ferreira Gullar.
Acontece que Chico e Edu trabalharam lentamente. E os prazos estabelecidos em contrato foram estourados, de forma que apesar da insistência da secretária Suzana Maria Guimarães, ela não pode ter o prazer de promover a estréia deste bailado ainda no governo João Elísio.
Para substituir - e para que o Ballet Guaíra não fique parado - o diretor Carlos Triencheiras optou por um espetáculo chamado "Variações Paganini", com música de Andrew Lloyd Webber (parceiro de Tim Rice em "Hair" e "Evita", entre outros musicais), que começa a ser ensaiado nesta semana. Em complemento, três bailados com coreografias desenvolvidas por integrantes do próprio Ballet Guaíra: "Concertino", de Isabel Santa Rosa (que é esposa de Triencheiras), "É proibido alimentar os animais", de Eduardo Laranjeiras e "Sarabandi", de Jurandir Silva.
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