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Aramis

A terra da Mônica é congelada mas os parques estão surgindo

- O Céu é o limite. Mais do que uma frase de efeito - e que já foi título de um dos mais populares programas da pré-história da televisão brasileira - a afirmação se ajusta quando Maurício de Souza, 51 anos, um paulista de Santa Isabel e que criado em Caçapava conserva o sotaque e a simplicidade do homem do Interior, fala de seus projetos. Exemplo de self-made man que hoje preside um império de entretenimento infantil em ascensão, Maurício conserva a mesma expontaneidade e simpatia dos duros anos em que era repórter policial da "Folha de São Paulo", em 1959, e que não tinha tempo para desenhar seus quadrinhos. Mas era tão estimado pelos colegas que estes se propuseram a não "furá-lo", dando tempo para que pudesse aprontar algumas tiras do "Bidu", capazes de convencer o editor Frias, das "Folhas" a nacionalizar a página dos quadrinhos. Os delegados também gostavam de Maurício e ele pode usar os bons recursos que a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo dispunha na área gráfica - mesas, tintas, papel. Ali nasceram as primeiras estórias e Bidu, que apareceria nas páginas da "Folha" a 30 de outrubro de 1959, inaugurando uma nova fase dos quadrinhos brasileiros. Hoje, Maurício preside aquilo que a jornalista Fátima Turci, do "Jornal do Brasil", descreveu como "uma mina inesgotável de sonhos e negócios que promete jorrar muitos milhões de dólares dentro de quatro a cinco anos, espalhando quadrinhos, revistas, livros, discos, filmes e milhares de produtos pelo mundo, da América Latina a Hong Kong". A Maurício de Souza Produções é holding de quatro empresas, hoje não é mais um escritório artístico de um desenhista inovador e idealista, criador da Mônica e do Cebolinha. As artimanhas da turma da Mônica, do primogênito cachorrinho Bidu e outros 100 personagens comerciais renderam em 1986, a uma centena de empresas licenciadas, algo em torno de 600 milhões de dólares, triplicando o faturamento de 1985. OS PARQUES DA TURMA - Há três anos, no encerramento do I FestRio, retornando do Japão, Maurício de Souza anunciava em entrevista coletiva o seu grande projeto: implantar uma "Terra de Mônica" no município de Cornélio Procópio, no Paraná. Um projeto magnífico, dando uma dimensão bem maior do que simplesmente a uma réplica tupiniquim da "Disneyworld". Ao contrário, um conjunto de espaços para várias faixas etárias, razão aliás de sua designação - "A Terra das Três Idades". Estudos foram desenvolvidos, contatos e mesmo contratos estabelecidos, entusiasmando o prefeito de Cornélio Procópio e empresários da região. Infelizmente, a burocracia e a incompetência oficial fizeram o projeto ser abandonado. Ou melhor, congelado, pois na elegância que o caracteriza, Maurício evita fazer críticas e revelar detalhes a respeito. Apenas diz: - Quando senti que elementos políticos haviam interferido, decidi adiar o projeto. "Elementos políticos" que, na administração José Richa - e quando a Paranatur atravessou sua pior fase, devido a incompetência da Secretaria da Cultura e Esportes (a qual estava subordinada) fizeram com que não só o projeto de Maurício de Souza, mas outras boas idéias fracassassem, Mas Maurício não abandonou totalmente o projeto: - A Cidade da Mônica ficou adiada. Mas continuo achando que a sua localização deverá ser no Paraná, num ponto de fácil acesso a Foz do Iguaçu. Em compensação, se a Monicaland não tem prazo para ser retomada, já no final deste ano - ou no máximo em princípios de 1987 - o primeiro parque de brinquedos participativos e interativos da Mônica deve entrar em funcionamento no Sul do país. Com uma proposta totalmente inovadora, os parques que Maurício de Souza quer implantar "em todas as localidades em que for possível", partindo depois para a exportação dos projetos de Know-how e administração, não têm qualquer brinquedo eletrônico nem espírito de competição, permitindo a criança ser o ator de seu espetáculo. A procura de parceiros nacionais em cada local para construir os empreendimentos, Maurício já encontrou alguns interessados. Os primeiros surgiram em Porto Alegre e em Blumenau - mas já existindo contatos em Brasília, Goiânia, Manaus, Salvador e mesmo Curitiba. O secretário Glauco Souza Lobo, de Turismo, procurou os executivos da Maurício de Souza e tem em mãos detalhes do projeto destes parques originalíssimos, com investimentos estimados em 5 milhões de dólares. A soma pode assustar a primeira vista, mas é perfeitamente válido como negócio, como explica o diretor administrativo-financeiro do grupo: - O investimento é de US$ 5 milhões, mas dimensionando os projetos para uma capacidade de abrigar 1.500 pessoas simultaneamente. Com um tempo médio de permanência estimado em duas horas e trinta minutos per capta, teríamos um total de 6 mil pessoas/dia. O retorno estritamente operacional, sem merchandising, se dará em quatro. Cada parque obedecerá características especiais. Os brinquedos serão originais, desenvolvidos da forma mais criativa possível possibilitando, é claro, também o merchandising. Por exemplo, uma indústria do Paraná, a Labra, está interessada num determinado brinquedo cuja forma lembra lápis-de-cor. Para encontrar a forma para estes parques de diversões, dentro de sua filosofia de entretenimento infantil, Maurício pesquisou muito. Ele revela: - Eu estava viajando pelo mundo inteiro à procura de algum lugar parecido com a minha proposta. Fui da Suíça ao Japão, buscando subsídios quando, em Nova Iorque, encontrei um pessoal que me falou da mesma filosofia num parque no Canadá, em Toronto. Fui lá há 5 meses, concluímos uma joint-venture com a firma canadense 66-35-77 Ontarion, comandada por George Bell, responsável pela concepção desses parques.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
5
15/02/1987

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