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Aramis

Um diretor inquieto contra a hipocrisia

Desconhecido ainda no Brasil, Michael Verhoeven, 52 anos, é um cineasta experiente, filho de um famoso diretor de operetas na Alemanha, casado com a atriz Senta Berger (austríaca, de carreira internacional). Em 1970, um filme de Verhoeven, "O. K. Wer im Glashaus Liebt..." (Quem Vive numa Casa de Vidro) provocou uma crise no Festival de Berlim: disputando as premiações a cáustica obra abordava a guerra do Vietnã - com soldados americanos vividos por alemães - irritou o presidente do júri, cineasta Georges Stevens (1904-1979), que propôs a sua desclassificação. O que não foi aceito por alguns membros, dividindo o júri e levando um dos integrantes, o cineasta iugoslavo Dusan Makajejev ("Os Mistérios do Orgasmo", "Sweet Movie", "Montenegro", "The Coca-Cola Kid") a denunciar o fato e provocar a crise, que motivou a suspensão da premiação. Vinte anos depois, Verhoeven voltou a concorrer em Berlim com "Uma Cidade sem Passado" - novamente com um filme de tema incômodo (especialmente na Alemanha), mas que, desta vez, foi consagrado. Recebeu o Urso de Prata como melhor diretor. Tendo estreado como diretor há 23 anos ("Pearunger", 1968), em 1982 com "A Rosa Branca" (Die Wiebe Rose, inédito nas telas mas à disposição em vídeo), chegou a ter indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro (perdendo para "Começar de Novo / Volver a Empesar", Espanha, de Luís Garcia), no qual fazia a abordagem de uma conspiração contra Adolf Hitler. Em 1985 Verhoeven dirigiu a esposa, Senta Berger, em "Killing Cars", mas o filme não teve repercussão. Assim, só agora, com a abordagem vigorosa que faz do nazismo - em seus reflexos sobre o povo alemão - é que teve uma justa reavaliação. Longe de estar esgotado como temática, passados cinco décadas, o nazismo - em sua brutalidade e ideologia, justifica que se analise - não numa colocação maniqueísta e antigermânica, mas sim, por comportamentos psicológicos, como o polonês Andrez Wajda fez em 1983 em "Um Amor na Alemanha" - também centrado numa pequena cidade - entre tantos outros exemplos. Como a personagem central, Sônia Rosenberger, a atriz Lena Stolze tem uma interpretação esplêndida: a ingenuidade da adolescente substituída pela determinação da mulher obstinada em realizar o seu projeto refletem-se em sua expressão dramática. Tendo atuado em "A Rosa Branca" do mesmo diretor - e também aparecido em dois filmes de Percya Adlon, é uma atriz a ser anotada, pois deve fazer carreira no cinema. Como acentuou Dorothea Mortiz, Verhoeven sublima a narrativa, fazendo do filme um libelo contra a covardia e a hipocrisia. Já Mike Downey, numa publicação de Munique, acentuou que "Uma Cidade sem Passado" é o exemplo perfeito de como pegar um tema conhecido mas tratá-lo de modo novo e empolgante - usando diferentes vozes e alternando a cor e o preto e branco como composição dramática.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
27/12/1990

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