Um livro para lembrar o repórter Charquetti
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de janeiro de 1986
No sepultamento do jornalista Percyval Charquetti, na tarde de 25 de dezembro, alguns de seus amigos - como João Dedeus Freitas Netto e Desidério Peron, ex e atual presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná, animaram-se com uma idéia simples mas significativa: reunir em livro as grandes reportagens que Charquetti fez ao longo de mais de 30 anos de vida profissional, acoplados a textos inéditos deixados em anotações e rascunhos, guardados por sua filha, Tangriane.
Primeiro profissional do Paraná a ganhar o Prêmio Esso de Reportagem - há exatamente 30 anos passados, com a série "Garimpo, Canaã de Ilusões", sobre o garimpo no Rio Tibagi, Charquetti participou de coberturas de importantes fatos ocorridos no Paraná, num material que transcende ao jornalismo momentâneo mas pode - e deve - ser perpetuado em forma de livro. Afinal, a nossa bibliografia é pobre e necessita de textos que tragam informações sobre acontecimentos que marcaram a vida política e social do Estado - como foi, por exemplo, a revolta dos posseiros no Sudoeste que teve, em 1957, a imparcial cobertura de Charquetti, com notável material fotográfico de Oswaldo Jansen.
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Fã de Guimarães Rosa (1908-1967), desde que o escritor mineiro publicou a primeira edição de "Grandes Sertões: Veredas" - e, portanto, um dos primeiros a entender a importância do estilo renovador do mestre mineiro - Charquetti também fez trabalhos na área da ficção, embora sem regularidade ou qualquer ambição de publicá-los. Mesclava em seu estilo pessoal, estórias do povo, colhidas em sua vivência de repórter e médico, em contato com as pessoas humildes ao longo do Paraná que tanto amava e conhecia. Este material exigirá, obviamente, cuidadosa seleção e especialmente trabalho de editoração, já que Charquetti escrevia da forma mais descomprometida. Como recorda um de seus grandes amigos, João Baptista Mathias (o "Mathias Bofetada"), hoje delegado de polícia, revisor durante anos de O Estado:
- "Ele escrevia a mão e corrigia a máquina..."
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A publicação de um livro com reportagens, textos avulsos e mesmo depoimentos sobre Charquetti, pode, inclusive, abrir uma coleção editada pelo Sindicato com material de profissionais da imprensa paranaense. Em Pernambuco, a atuante Associação de Imprensa mantém uma valorizada coleção, com textos jornalísticos e de ficção de jornalistas, além de promover anualmente concursos na área do romance, contos e ensaios.
Há 22 anos, quando da morte do jornalista e poeta Mauri Furtado, seus amigos, emocionados com seu afogamento na praia de Caiobá, a 8 de dezembro de 1964, pensaram em reunir seus trabalhos inéditos - especialmente poesia e contos, além de fragmentos e uma novela - para um livro póstumo. Infelizmente, o projeto não foi concretizado e de Mauri Furtado, um dos mais admiráveis intelectuais e pessoas de sua geração, só resta a memória fugidia junto aos seus contemporâneos. Mas ainda há tempo de se prestar uma homenagem a Mauri (e a outros bons profissionais de nossa imprensa, já falecidos), dando forma de livro a textos que o tempo faz desaparecer.
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O publicitário Sergio Mercer, quando presidente da Fundação Cultural, teve a sensibilidade de editar um livro reunindo a produção do jornalista Renato Ribas publicada nos anos iniciais da "Tribuna do Paraná", na coluna "Ecos da Noite" - que assinava com o pseudônimo de Reinaldo Egas. Registros de uma época risonha, franca e animada (muito mais do que a de hoje) da noite curitibana. Mercer também havia programado um livro com as crônicas de Ernani Gomes Correa (1912-1982), redator por mais de 20 anos da coluna "Roda Gigante", também na "Tribuna do Paraná". Infelizmente este projeto não foi concretizado em sua administração e, naturalmente, a diretoria que o substituiu não tem a mesma visão para as coisas da cidade.
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