Uma comédia motorizada
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de junho de 1991
Depois da imagem inesquecível do professor, que faz seus alunos descobrirem a intensidade da vida em "Sociedade dos Poetas Mortos" e do rebelde disk-jockey no campo de batalha de "Bom dia Vietnã", pode até ser difícil aceitar Robin Willians como um abilolado vendedor de automóveis e suas complicações triviais - falta de dinheiro, quatro envolvimentos sentimentais e muita confusão.
Entretanto, bastam os dez primeiros minutos de "Um Conquistador em Apuros" (Lido II, até amanhã em exibição) para se perceber que um ator eclético é capar de segurar mesmo personagens aparentemente desconfortáveis.
Com um título pouco atraente (no original, "The Cadilac Man"), lançado obscuramente, este novo filme do diretor Roger Donaldson, 46 anos, mais um australiano bem sucedido em Hollywood, pode ser desprezado pelos espectadores com tantas opções de bons filmes em cartaz.
Entretanto, quem souber enxergar verá méritos nesta comédia que embora com características extremamente americanas tem um humor inteligente e contagiante. Quase a beira do pastelão sarcástico a aspectos do american way of life , as confusões que a vida de Josy O' Brian (Willians) conduzem a uma leve sátira, a uma neurose americana: o risco de por atos paranóicos pessoas comuns se verem seqüestradas e vítimas de atos insanos - como regularmente se tem notícia.
Da seqüência inicial - com a fotografia aérea de David Gribble acompanhando um enterro num imenso cemitério de Los Angeles - interrompido quando o carro funerário pifa (oportunidade para o esperto vendedor O' Brian tentar vender um novo veículo ao seu proprietário , com a maior cara de pau, tentar fazer o mesmo com a viúva do falecido a espera de ser enterrado), "The Cadilac Man" é um filme sobre rodas: o status automotor, tão caracteristicamente capitalista da sociedade americana marca o clima desta comédia que em alguns momentos lembra outras incursões, no mesmo estilo, no mundo dos picaretas de automóveis. Aliás, um bom marketing promocional seria promover pré-estréia tendo como convidados justamente os "profissionais" do mercado de automóveis.
Filmado no bairro de Queens, em Nova York, com o aproveitamento de um autêntico espaço para vendas de automóveis - no qual os cenários criam o Turgeon Auto , o roteiro de Ken Friedman, novaiorquino e ex-motorista de taxi, em seus últimos 30 minutos tem uma ação que fica entre um vandeville e imagens que parecem saídas do tenso "Um dia de Cão" (Dog Day Afternoon", 75, de Sidney Lumet) e que, por trás de toda sua dramaticidade não deixava de ter momentos de um humor trágico.
Cineasta experiente, autor de um dos mais contundentes filmes da denúncia social dos anos 80 ("Maria, A História de Uma Coragem" - Marie, a true story, 85), Donaldson exerce um domínio nos atores, pois amparado no talento de Willians, extraiu do ainda jovem Tim Robins (visto em "Erik, O Viking", e pequenos papéis em "Tapeheades", "Top Gun" e "No Small Affairs") uma interpretação deliciosa como o enciumado Larry, que por ser corneado pela belíssima e sensual Donna (Annabela Sciorra, anotem este nome), decide vingar-se em grupo, ameaçando todos que se encontram na loja de automóveis em que sua infiel cara metade trabalha. O' Brien, entre tantos problemas amorosos (e financeiros) não resolvidos decide ter os seus 15 minutos de glória e tornar-se o negociador da estranha situação - para um final feliz, naturalmente.
Sem chegar a ser um grande filme, "Um Conquistador em Apuros" cumpre a sua finalidade: diverte. A trilha sonora de J. Peter Robinson é excelente, abrindo com uma canção belíssima ("Oportunity", na voz de Julis Lee), que merecia edição no Brasil.
Enviar novo comentário