Viaje pelo tempo com as reedições do "Dezenove"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de março de 1987
Francisco Brito de Lacerda deixa a direção da Imprensa Oficial do Estado, na próxima semana, bastante satisfeito. Afinal, além da privilegiada situação financeira daquele departamento da Secretaria da Administração (todas as contas em dia, polpudas aplicações na poupança), Chico Lacerda conseguiu deixar sua marca de intelectual, voltada às coisas do Paraná, ao menos inovando na ilustração das primeiras páginas do "Diário Oficial do Estado" - sempre que houve datas históricas (com desenhos a bico de pena de Júnior) e, especialmente, as edições de mais dois volumes em fac-símile do "Dezenove de Dezembro".
Aquilo que a mais talentosa de suas sobrinhas, a professora Cassiana Lícia Lacerda Carolo iniciou na administração de Luís Roberto Soares, na Secretaria da Cultura, teve continuidade graças à Imprensa Oficial: resgatar a histórica publicação de Cândido Lopes, fundada em 1º de abril de 1854, nascendo como órgão oficial do governo provincial, que a ele destinava uma subvenção mensal de 60$000.
Na administração Ney Braga, foram publicados volumes com os três primeiros anos de "Dezenove de Dezembro", em edições encadernadas - a partir do segundo volume com capa de pano.
Infelizmente, a omissão da Secretaria da Cultura na administração José Richa (e poderia ser diferente?) impediu que as reedições tivessem a continuidade necessária. Só com a decisão de Brito de Lacerda em bancar este projeto, foi possível lançar mais dois volumes - correspondentes aos anos de 1857/1858, elevando assim para cinco volumes a coleção. Se a Secretaria da Cultura não tivesse interrompido o projeto de Cassiana, pelo menos mais dois volumes teriam sido editados.
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O volume referente ao período de 3 de março de 1858 a 26 de março de 1859 - ano V do "Dezenove de Dezembro", saiu agora, com uma tiragem de 500 exemplares (Cz$ 130,00 o exemplar, a venda no Departamento de Imprensa oficial). Representou a aplicação de CZ$ 50 mil em sua produção - feita na própria Imprensa do Estado, que dispõe, aliás de um dos mais completos parques gráficos do País.
A esperança de Brito de Lacerda - e de todos que sabem reconhecer a importância de edições como esta - é que a Sra. Gilda Poli, que passa da Secretaria da Educação para diretora da Imprensa Oficial do Estado (?) a partir da próxima quarta-feira, tenha suficiente sensibilidade para dar prosseguimento ao projeto de toda a coleção do primeiro jornal paranaense ser reeditado em forma de livros. É bem verdade que o novo secretário da Cultura, René Dotti - felizmente o oposto do que foi o calamitoso ocupante daquela pasta na administração José Richa - é um homem culto, inteligente e sensível às coisas do Paraná e que se unirá à Imprensa oficial para que trabalhos como este não sejam interrompidos.
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A única coleção completa do "Dezenove de Dezembro" encontra-se no Museu Paranaense e, felizmente, foi microfilmada - permitindo-se assim a sua reprodução fac-símilada. Assim como outras publicações históricas, a coleção do jornal editada por Cândido Lopes encontra-se bastante danificada, sendo proibido hoje o seu manuseio.
Aliás, um alerta! A maioria das coleções de periódicos paranaenses depositados na Biblioteca Pública encontra-se em precaríssima situação. Manuseada sem cuidado, muitas vezes até cortadas e rabiscadas, há muito que coleções das dezenas de jornais que contam a história do Paraná precisam, com toda a urgência, serem microfilmados. É ridículo que até hoje a Biblioteca Pública do Paraná tenha apenas uma máquina leitora de microfilmes, quando, só na Biblioteca Nacional, existem sessenta desses aparelhos.
É criminosos que nos últimos anos não tenha havido interesse oficial em prosseguir o programa de microfilmagens de jornais e revistas do Paraná, dentro inclusive de um projeto nacional que, na administração de Luís Roberto Soares na pasta da Cultura foi iniciado com a preservação do "Dezenove de Dezembro". Só quem se preocupa em pesquisar aspectos diferentes da história e memória do Paraná sabe dar importância das coleções existentes na Biblioteca Pública como fonte de informação. Infelizmente, pelo próprio uso, estas coleções vão se deteriorando ao longo do tempo, sendo urgentíssimo a sua microfilmagem.
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