Vinícius & os Pablos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de junho de 1974
No enterro dos ossos expressão com que a classe artística chama a última apresentação de um espetáculo em teatro - Vinícius de Moraes, Toquinho e o Quarteto em Cy, domingo passado no Auditório Tibiriça, da Universidade Católica de São Paulo, tiveram um "reforço" inesperado que levou os 1.200 espectadores que lotavam a platéia quase ao delírio: Milton Nascimento, às vésperas de embarcar para os EUA (onde vai ensaiar com Weather Reporter a sua participação no Festival de Montreaux), cantando "A Felicidade", Jorge Ben mostrando suas últimas (e inéditas) músicas e os rapazes do Trio Mocotó. O mais bem acabado espetáculo do poeta e compositor Vinícius em teatro que agora inicia o Circuito Universitário - e que possivelmente estará em Curitiba, no próximo fim de semana (única capital depois de SP a assistir o show) - é dedicado a memória de Pablo Neruda (1904-1973), amigo pessoal de Vinícius, que o homenageia com a leitura de vários poemas - anteriormente reunidos num livro ilustrado com gravuras de Calazans Neto e lançado, em edição particular (apenas 300 exemplares) na Bahia. Num destes poemas, Vinícius fala do "ano assassino de 73", lembrando três grandes amigos que perdeu há poucos meses:
Que ano mais sem critério
Esse de setenta e três...
Levou para o cemitério
Três Pablos de uma só vez.
Três Pablões, não três pablinhos
No tempo como no espaço
Pablos de muitos caminhos:
Neruda, Casals, Picasso.
Três Pablos que se empenharam
Contra o fascismo espanhol
Três Pablos que muito amaram
Três Pablos cheios de Sol.
Um trio de imensos Pablos
Em gênio e demonstração
Feita de engenho, trabalho
Pincel, arco e escrita a mão
Três publicíssimos Pablos
Picasso, Casals, Neruda
Três Pablos de muita ajuda
Três líderes cuja morte
O mundo inteiro sentiu...
Ô ano triste e sem sorte:
... (o poema encerra com um sonoro palavrão)
LEGENDA FOTO - Vinícius
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