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Aramis

Vocalistas

Dick Farney (Farnésio Dutra e Silva, Rio de Janeiro, 14 de novembro de 1921) é um artista que nos últimos 30 anos tem mantido uma faixa muito específica e sofisticada de público: os consumidores da música romântica, ao estilo americano, da qual sempre foi um dos grandes divulgadores. Filho de família abastada, formação jazzística, pianista de toques suaves e, em termos jazzísticos, bastante agradáveis, uma voz privilegiada que os anos não prejudicaram, Dick é um homem radical nos dias atuais. Pode inclusive ser confundido, chamado de esnobe e preconceituoso. Para ele, há muitos anos não aparecem composições de gabarito, capazes de fazê-lo renovar o seu repertório (embora em seu penúltimo elepê tenha gravado algumas músicas novas, inclusive o belo "Aeromoça", de seu amigo Billy Blanco). Dick Farney, aparência ainda de galã, reforçada pelos cabelos embranquecidos, tem um público seguro. Tanto é que ao lado de seus músicos - o baterista Toninho, baixista Sabá (Sebastião Paz), e, nos últimos meses, o pianista e maestro Julinho (Julio Cesar de Figueiredo), Dick não consegue atender a todos os convites que recebe para shows, principalmente em clubes e boates, pois o seu nome sempre atrai uma faixa "saudável" de público - entre os 38/50 anos, que por certo amaram ao som de sua voz aveludada, cantando em português ou inglês. Para os mais jovens, sensíveis ao que há de bom, Dick também merece a admiração como instrumentista, pois já participou de históricas jam-sessions, algumas inclusive gravadas em preciosos (e esgotados) elepês. Este ano, menos de 3 meses após o seu novo e interessante elepê como vocalista, em solo, temos um romântico álbum ("Tudo Isto é Amor", EMI/Odeon, SXMOFB 3904, junho/76), em que divide várias faixas com a cantora Claudete Soares. Claudete Colbert Soares (Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1937), começou a cantar muito cedo: aos 10 anos já atuava no programa "Papel Carbono", de Renato Murce, na rádio Nacional e, aos 17 anos, era a "Princesinha do Baião". Apesar de radicada em São Paulo na década de 60, tornou-se uma das mais expressivas cantoras da Bossa Nova. E, até hoje, se mantém como uma das vocalistas mais seguras, de maior gabarito em nossa MPB. Depois de uma série de elepês na Philips, Claudete passou para a Odeon, onde gravou, recentemente, o vigoroso "Corpo e Alma", produzido por seu marido, o maestro Julio Cesar. Com Dick Farney, anos atrás, já havia gravado uma faixa ("Fotografia") num elepê que até hoje ainda é vendido. Agora, os dois juntos, num elepê da maneira com que ambos gostam; cantando o amor, músicas suaves, marcantes de uma das melhores fases da emepebe - anos 50/60 e que se destina as pessoas as quais a brutalidade de nossos dias, o tempo de fezes e traições como já escreveu um poeta, não [anestesiou] totalmente. E, para estes, não temos dúvida em recomendar "Tudo Isto é Amor" como um elepe indispensável. Aos que se preocupam em propostas novas, participação, puzzles verbais nas letras e um pretendido "som universal", devem passar a distância deste disco. Mas, que é capaz de emocionar-se com uma poesia de Drummond, Vinícius ou Lorca, entender a importância da rosa e apaixonar-se, este elepê, produzido por Sabá, vale bem mais do que os Cr$ 70,00 que custa. Dick Farney toca piano e canta (bem) como sempre e Claudete está excelente. Os arranjos do maestro Julinho foram perfeitos e além da presença de Sabá e Toninho, temos, três solos de destaques: o sax alto de Paulo Moura em "Fotografia", a guitarra de Geraldo Vespar em "O Nosso Olhar" e o flugelhorn de Marcio em "Tenderly" (Jack Lawrence/Walter Gross), a única música estrangeira incluída. Mas uma música como esta merece sempre ser gravada. Outras faixas: "O Que é Amar" (Johny Alf), "Minha Namorada" (Carlos Lyra /Vinícius de Moraes), "Este Seu Olhar" (Antonio Carlos Jobim), "De Você Eu Gosto" (Jobim - Aloysio de Oliveira), "É Preciso Dizer Adeus" (Jobim/ Vinícius), "Castigo" (Dolores Duran), "Fotografia" (Tom), "Somos Dois" (Armando Cavalcanti - Klecius Caldas Luiz Antonio), "O Nosso Olhar" (Sergio Ricardo) e, a faixa-título, "Tudo Isto é Amor" (Laura Maria), a qual, salvo engano, é a única composição inédita deste elepê romântico, honesto e bem realizado. Um disco limpo para pessoas que ainda acreditam no amor apesar de todos os Vietnãs do mundo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
28
18/07/1976

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