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Aramis

A volta dos Incríveis

Apesar dos trajes esportivos e dos sorrisos no olhar sente-se que todos envelheceram. Netinho, o mais famoso do grupo – ex-namorado da italiana Rita Pavone, com um elepe—solo gravado, tem até uma ameaça de [calvície] em escalada. Nenê (baixo/vocal), Manito (sax/teclados), Mingo (guitarra/vocal) e Risosonho (guitarrra solo, violão) estão com os cabelos ainda bem pretos, mas é claro que não são os mesmos garotões de 15 anos [passados] – quando fizeram suas primeiras gravações. O tempo passou – a Jovem Guarda desapareceu, os Bestles desapareceram (um deles, Jonh Lennon, morreu [em] 8/12/80) e o público que se entusiasmava com Os Incríveis no início dos anos 60, hoje já está bem mais amadurecido. Assim o reaparecimento deste quinteto vocal- instrumental que durante pelo menos uma década fez um rock nacional, com razoável qualidade, era um desafio para a produção. A RCA, tão logo Netinho e seus antigos companheiros se decidiram a entrar num estúdio para voltarem a gravar juntos se preocupou em desenvolver uma boa campanha promocional – em Curitiba, cuidada com carinho pelo supervisor Kleber Araújo. Afinal, era importante que Os Incríveis- 82 tivessem ao menos uma presença num mercado altamente competitivo e cujas regras do jogo sofreram profundas mudanças frente a tantas evoluções fonográficas. O resultado é agradável . Amadurecidos, procurando equilibrar um repertório capaz de fazê-los chegar aos antigos fãs dos anos 60, mas também os credenciando junto a uma geração com novos códigos de valores. O disco abre com “Voa passarinho! Voa...” (Augusto Moreno Neto), balada ingênua e de fácil consumo, seguida logo de “Seu Sol”(Netinho – Pisca), com letra simples e comunicativa, ao qual se une a mais comercial faixa ( e menos importante musicalmente), o “Terror dos Namorados”(Meio do Beijo) do Erasmo/Roberto Carlos de uma fase bem antiga. “Fado e Vinho” é a última faixa deste lado, “Brasil Acima de Tudo” (Zé Rodrix /Miguel Paiva) que se constitui no momento alto do disco. Com ótima vocalização, esta música tem humor e sátira, lembrando o que de melhor foi feito – de Carlinhos Lyra (“Canção do Subdesenvolvido”, 1962) as letras de Aldir Blanc no final dos anos 70. A ironia em Zé Rodrix, um compositor crítico e inteligente encontrou em Paiva, da equipe  do “Pasquim”, um parceiro perfeito para ironizar – em forma de um samba ufanista ( como aquelas exaltações estilo “Estado Novo”, de David Nasser, Denis Brean e Alcyr Pires Vermelho)  o nosso colonialismo ufanista. Só a inclusão deste “Brasil Acima de Tudo” justificaria o reaparecimento de Os Incríveis. Mo lado 2 a abertura é com “Pai de Deus” (Hélio Matheus), seguida de “Declaro Paz”(Nenê), uma espécie de declaraçòes de princípios para não esquentar a cabeça (“O que eu aprendi na vida/tudo vai se resolver/Pensei em reformar o mundo/Achei que estava com a razão/Mas se ficar pensando em tudo/Não resolvo nada). Apreciado globalmente, esta  volta de Os Incríveis pode parecer desigual e extremamente comercial. Mas considerando as contingências, houve um equilíbrio e coerência – para o público que teve e o que pretende reconquistar.  
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
26
31/01/1982

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