30 anos de forró da brasileira Anastácia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de agosto de 1985
Anastácia (Lucinete Ferreira, Recife, 1943, é o exemplo do artistas popular que sofreria um longo processo de discriminação pelos chamados veículos nacionais até encontrar o justo reconhecimento nacional. Só quando Gilberto Gil, baiano de antenas ligadas na sabedoria popular, gravou "Só Quero um Xodó", de Anastácia e Dominguinhos (na época seu companheiro) é que as chamadas platéias urbanas tomaram conhecimento desta compositora e intérprete. Entretanto desde 1955 que esta pernambucana de graça e balanço vem fazendo uma musica bonita e de raízes. Aos 12 anos ganhava um concurso de calouros no Cotonifício Oto e foi contratada na orquestra da fábrica. Em 1954 já era contratada da Radio Jornal do Comércio, iniciando uma carreira que hoje chega a 20 elepês em 30 anos de atuação regular.
Anastácia corresponde para o Nordeste o que é Berenice Azambuja para o Rio Grande do Sul: a compositora e cantora vigorosa, capaz de uma extraordinária comunicação. Interprete do forro, transmite sua musica com muita maior autenticidade do que Elba Ramalho embora não tenha, infelizmente o mesmo reconhecimento da hoje superstar paraibana. "30 anos de Forro''(Continental,julho/85), produção de Helinho Rodrigues, em arranjos de Osvaldinho do Acordeon, Anastácia e Dino Vicente é um dos mais emocionantes momentos da musica nordestina. Por exemplo, reinterpretando o clássico "Vozes da Seca" (Luiz Gonzaga/Zé Dantas) tem a participar, ao especial de Belchior, com sua voz poderosa e que ele, infelizmente, insiste em desperdiçar num repertório roqueiro. Outra participação especial é de Gil, em "Eu Só Quero um Xodó". Nas demais faixas,temos a Anastácia irreverente, bem humorada e especialmente vibrante com um repertório da melhor qualidade, com nove composições próprias e encerrando comum pot-pourri que inclui Elino Julião ("Na Minha Rede Não" "Vamos Xamegar"), Venâncio-Curitiba ("Uai-Uai"), Geraldo Nunes/Chico Santana ("Carta a Mãezinha"). Um disco com gosto de Brasil,vigoroso e até malicioso,como no belo "Amor na Rede".
O forro deve muito a Anastácia, grande interprete e autora!
Enviar novo comentário