A arte múltipla do eletrizante Utrabo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de junho de 1990
Em 1964, quando o produtor Nelson Teixeira Mendes veio rodar no Paraná o filme "O Diabo de Vila Velha", seu assistente de produção, Laertes Moreira (já falecido) corria a cidade para encontrar objetos de época. Havia raros antiquários e o único com uma bem montada estrutura era Rubens Utrabo, numa das lojas do então elegante edifício Sumatra na rua Senador Alencar Guimarães. Ali, escolhendo algumas peças que poderia compor um dos cenários na sede da fazenda na qual se passavam muitas seqüências, o diretor Odyr Frega (catarinense, também já falecido) ficou impressionado com o tipo físico e a desenvoltura do antiquário. O convite para participar do filme, interpretando um sacerdote, foi imediatamente aceito e por quase 100 dias, Utrabo dedicou-se às filmagens - das mais complicadas aliás, e que tiveram nada menos que três diretores (José Mojica Marins e o próprio Teixeira Mendes) para um resultado que poucos viram. Até hoje, Utrabo sonha em conseguir uma cópia deste filme, cujos negativos se perderam.
Participar como ator da produção aqui rodada foi apenas mais uma - entre tantas - experiências que fazem de Rubens Utrabo, curitibano da Rua Itupava, 63 anos, manter uma juventude tão intensa quanto o seu trabalho diversificado.
Hoje, dono de uma gorda conta bancária e prestígio em círculos sociais-artísticos do Rio de Janeiro, Rubens Utrabo está longe dos tempos em que vivia na base de um lanche diário e ganhava a vida como fotógrafo da "Vida Doméstica", na primeira vez em que tentou morar no Rio de Janeiro. Seu atelier - estúdio incrustado ao lado da floresta da Tijuca, próximo a São Conrado, no Rio de Janeiro, recebe clientes-notícias constantes, especialmente mulheres bonitas, "pois, como Vinícius de Moraes, beleza é fundamental".
Pintor, escultor, fotógrafo, designer, entre outras credenciais que pode anotar em sua ficha de identificação, Utrabo esteve por alguns dias em Curitiba. Já fez meia dúzia de exposições em grandes metrópoles - Nova York, Londres, Paris, Frankfurt (onde inclusive recebeu premiação), seus trabalhos têm um bom público, mas ressente-se de que os curitibanos não (re)conheçam ainda o seu talento diversificado. Para tanto aqui esteve fazendo uma série de contatos e entregando a duas amigas - a veloz Gladys Gama França e a organizada Regina Guimarães - a responsabilidade de organizar um verdadeiro festival Utrabo, que incluirá parte didática (palestras no Centro de Criatividade), uma retrospectiva de seus trabalhos (Círculo Militar, em setembro), um happening de sua griffe, com as mais belas modelos, que poderá acontecer no futurístico cenário do Shopping Mueller e mesmo um desfile-show, explorando o dinamismo de suas peças, cuja idéia ficou anotada pelo superintendente da Fundação Teatro Guaíra, Constantino Viaro, com quem Utrabo manteve um longo encontro na semana passada.
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Uma das peças criadas por Utrabo, que ganhou maior divulgação foi o biquini-placas para Sonia Braga. A atriz de "Dona Flor e seus dois Maridos" que usou a original cobertura num poster-sexy que correu o mundo e para Utrabo foi um dos momentos em que teve a maior gratificação pelo seu trabalho de designer. "Para cobrir um corpo tão belo como o de Sonia nada melhor do que uma arte nascido da imaginação e do amor", explica.
Mais de 4 mil peças criadas nos últimos 5 anos, diversificando para esculturas múltiplas, inovando em materiais - como a pintura a óleo sobre metal - Utrabo procura um toque de misticismo em suas propostas. Há três anos, quando expôs em Londrina - numa volta sentimental ao Norte do Estado (nos anos 50, trabalhou com vendas de terras em Francisco Beltrão, Paranavaí e até Cascavel), pensou em projetos plásticos unindo o místico ao visual.
Utrabo se considera um homem de estrela iluminada e não nega que nasceu voltado para a Lua: há 25 anos, fez um cinto com argolão de cortina que ofereceu para sua amiga Angela Vasconcelos - então no auge do sucesso, pois havia sido a encantadora Miss Brasil 1964. Em apenas uma semana, o sucesso do look usado por Angela fez com que recebesse mais de 350 encomendas, "O que me ajudou naqueles tempos de conquista de um espaço carioca", lembra.
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Filho de Antonio Utrabo, um cuzqueño que pintava tetos de igrejas e catedrais, Rubens é de uma família numerosa: entre seus irmãos, o radialista Carlos Afonso Utrabo, já falecido; e o fotógrafo Umberto, este tendo com ele aprendido a arte da fotografia. Afinal, quando retornando do Rio de Janeiro, aqui montou um original estúdio - "Só Crianças" - no qual o mano mais moço aprendeu a fotografar. Hoje, Umberto tem um prestígio interestadual, tanto é que ainda na semana passada, ali esteve um dos mestres do click paulista, Heitor Serafim Neto, que veio a Curitiba para preparar books para alguns dos mais belos rostos da nova geração da cidade.
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Com muitos projetos, um portfólio repleto de elogios e provas da cobertura nacional que suas exposições têm recebido, diversificando cada vez mais suas atividades, Utrabo quer, agora, mostrar um pouco do que fez nos últimos 25 - "e do que pretendo desenvolver até o ano 2015", diz com otimismo - em seu retorno a Curitiba.
Como artista plástico - nas pinturas, desenhos, sem abandonar qualquer possibilidade de criação, Utrabo, feliz da vida ao lado de sua segunda esposa, a bela Amancia, orgulhoso de integrar a Academia Brasileira de Belas Artes, diz:
- "Não quero ser melhor do que ninguém, mas diferente em todos os momentos da vida".
LEGENDA FOTO 1 - Utrabo: uma arte diversificada.
LEGENDA FOTO 2 - Um exemplo da arte de Utrabo, a espera de uma revisão em Curitiba.
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