Cecília Meireles.
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de fevereiro de 1977
Cecília Meireles foi um dos poetas mais preocupados com a educação da sensibilidade infantil. Criou a primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro, e durante muitos anos assinou uma coluna sobre educação no Diário de Notícias. Foi professora e diretora de colégio.
Em Criança meu Amor, Cecília voltou-se para a criança, inclinou-se especialmente para ela; manteve o timbre maternal, de doçura, de embalo, com o qual retratou momentos relacionais, esboços psicológicos, diálogos ingênuos com a inocência. Por vezes, na vivência infantil de um fato, transparece a filosofia ceciliana, como naquela página das meninas que tinham flores nos seus jardins, menos Noêmia, pois dera tudo aos que passavam. Há uma disfarçável ternura pelas crianças pobres. Um convite a dividir, no mais puro elã do cristianismo praticado, sublinha muitas destas pequenas fábulas. Nelas Cecília é uma professora poeta, valorizando a escola, exortando o inverno a não castigar as crianças necessitadas de sol, contando a história do gato Radamés. Na verdade este é um livro de várias realidades, como as crianças gostam. Há o imaginário, o bom conselho, o humor, a fantasia, o mundo privado da criança em todos os sentidos. De repente um desenho rápido e vivo quebra a seriedade de uma página instrutiva; uma metáfora liga todo o mundo de experiência e cultura que amealhou, com a simplicidade de uma cena bucólica e ingênua.
Agora que a criança passa a ser alvo de interesses gerais, a voz de Cecília chega pedagogicamente atualizada.
Há muito tempo ela vaticinou o encontro contemporâneo do adulto com a criança. Hoje todas as escolas conduzem ao estímulo da criatividade.
Hoje a gente já sabe que a criança não deve copiar, mas inventar, como os cientistas e os poetas. Cecília sabia disso. Por isso quis dar o livro à criança, por isso foi professora empenhada e apostolar.
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