Contra tudo, foi o melhor dos festivais de Brasília
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de novembro de 1989
Brasília
No melhor dos festivais do cinema realizados nesta capital nestes últimos anos, no qual o pequeno orçamento (NCz$ 500 mil), reduzido número de convidados (apenas 80) e poucas estrelas presentes - Irene Ravache, atriz de "Que bom te ver viva", favorita ao Candango de melhor atriz, somente chegaria ontem à tarde (está em São Paulo, fazendo uma peça de teatro) não impediram excelentes resultados.
Teremos na noite desta terça-feira, o anúncio dos premiados desta 22ª edição, entre os 12 filmes em disputa (seis longas e seis curtas), cada um significativo em sua proposta. Se dos longas, apenas dois foram absolutamente inéditos - "Os Sermões", de Júlio Bressane e "Minas Texas", de Carlos Alberto Prates - isto não dignificou menos interesse ao público, que todas as noites superlotou o Cine Brasília (610 lugares), praticamente com o dobro de sua capacidade.
- "O público ansiava pelo retorno do Festival ao Cine Brasília" - comentava feliz, o coordenador geral Marco Antônio Guimarães, 44 anos, mineiro de Abaeté, funcionário da Pró-Memória em Minas Gerais, mas a cuja competência se devem nove das melhores edições do festival. Foi secretário executivo do festival de 1975 a 1979 e coordenador de 1986 a 1987. No ano passado, devido a divergências com o maestro Marlos Nobre, presidente da Fundação Cultural do Distrito Federal (que transferiu o evento para o conjunto de salas de exibição do distante Park Shopping), Marco Antônio afastou-se do evento. Agora, retornou, organizando-o de forma prática, econômica, com excelentes resultados.
Em menos de 40 dias, contando com uma pequena equipe (entre a mesma, a poeta curitibana Christina Gebran, agora radicada em Brasília), conseguiu viabilizar um festival enxuto, no qual tudo funcionou em ordem. Não aconteceram eventos paralelos (encontro de pesquisadores, reunião da Associação dos Documentaristas etc.) mas, em compensação, todas as sessões do festival - filmes infantis pela manhã, mostra informática à tarde e competição à noite - tiveram excelente público. No Cine Itapoã, mantido pelo Cineclube da cidade-satélite de Gama (250 mil habitantes, 40 km do Plano Piloto), os filmes em competição também foram exibidos, para um público humilde e que acompanhou os longas e curtas, e com idêntico interesse participou de debates com alguns membros das equipes que se dispuseram a ir até a cidade-satélite. Por exemplo, Emanuel Cavalcanti, da equipe de "Uma Avenida Chamada Brasil" - o contundente documentário sobre a violência urbana no Rio de Janeiro - chegou até a se emocionar com o interesse de crianças, jovens e adultos que no Cine Itapoã assistiram, com o maior interesse as fortes imagens do filme de Octávio Bezerra.
O fato de contar com pequenos recursos e num ano em que a produção cinematográfica foi das mais reduzidas não impediu que se conseguisse uma amostragem representativa dos filmes que só agora - ou no primeiro trimestre de 1990 - estarão em exibição. "Lili, a estrela do crime", de Lui Farias (já lançado em Curitiba, no Cine Condor) entrou na última hora na fase competitiva para substituir "Barella", de Marco Antônio Cury que a exemplo do "Círculo do Fogo", de Geraldo Moraes não ficou pronto a tempo. Este foi substituído por "Jardim de Alah", que já valeu a David Neves dois prêmios especiais do júri (Gramado e Natal). Apesar de produções simpáticas, são azarões na bolsa de apostas sobre os premiados.
O clima político nesta semana que antecede as eleições refletiu, obviamente sobre o festival - além de três filmes aqui exibidos - dois em competição ("Avenida Brasil" e "Que bom te ver viva") e um na mostra competitiva ("Corpo em Delito", de Nuno Cesar) abordarem aspectos explícitos do Brasil nos anos da ditadura e da violência urbana - nas discussões, nas redes informais, em todos os momentos - a confusão, situação que ficou o campo eleitoral após a entrada de Sílvio Santos no páreo - passou a ocupar momentos maiores do que a discussão formal sobre os filmes apresentados. No domingo à noite, muitos preferiram vir para o hotel Carlton, assistir ao debate dos presidenciáveis (TV Bandeirantes) do que ver o filme "Jardim de Alah".
LEGENDA FOTO - "Uma Avenida Chamada Brasil", de Octávio Bezerra - documentário sobre a violência urbana, rodado nas favelas cariocas - está entre os filmes importantes levados ao Festival de Brasília.
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