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Aramis

Cray, o blues que voltou às paradas

Se os álbuns da Atlantic - que a WEA lança no Brasil - representam uma antologia para introduzir o melhor blues na guitarra e piano e o álbum duplo gravado ao vivo com Stevie Ray Vaughan mostra o estilo deste jovem bluesman, a Polygram, oportunamente, traz a mais nova sensação do gênero, Robert Cray, 33 anos, que, no início deste ano, com o seu quarteto, conseguiu ver o elepê "Strong Persuader" catipultuado [catapultado] por mais de quarenta semanas entre os "Top 20", dos mais vendidos - fato que há anos não acontecia com o gênero blues. Com seus dois LPs anteriores, "Bad Influence" (83) e "False Accusations" (85), Cray havia conquistado cinco W. C. Handy, o "Grammy" do blues. Elvis Costello lançou os dois na Inglaterra pelo seu selo Demon Records e ambos estiveram entre os mais vendidos. Agora, a Robert Cray Band é ouvida no Brasil. Ela é formada pelo baixista Richard Cousins, tecladista Peter Boe e o baterista David Olson. O bem informado Luciano Borges, na "Folha de São Paulo", lembrou que Cousins trabalha com Cray há 17 anos - e juntos resistiram várias modificações no grupo, desenvolvendo um som que foge do blues tradicional, aproximando-se do soul, rock e rythm and blues. Assim, "Strong Persuader" resume essas influências. Diz Borges: "Foi capaz de ser digerido por uma platéia branca. Gerou as inevitáveis discussões entre puristas e integrados". Em entrevista à revista "Rolling Stones", Cray disse: - "Acho que a música neste disco não é completamente blues. Mas o que vocês poderiam dizer de várias canções que John Lee Hooker ou Bobby Bland gravaram? Elas não tinham a estrutura formal do blues". Americano da Georgia, Sul dos EUA, Cray teve influências em Sam Cooke, B. B. Albert e Freddie King e outros bluesmen, que ouvia na Alemanha Ocidental, onde morou em sua adolescência (seu pai era militar e prestava serviço em Berlim). Outra influência foi do cantor Albert Collins, um bluessinger do Texas, ainda desconhecido no Brasil. O disco "Strong Persuader" merece atenção, com canções em que divide as letras com Dennis Walker, invertendo, inclusive, a temática da traição amorosa, o que é novidade no blues. Nas suas canções, Cray não é o homem traído, mas também um traidor que faz a mulher sofrer e sente-se culpado por isso, na observação de Borges que, com plena felicidade, bem definiu este novo artista dos blues, que "parece ter encontrado o caminho para levar o blues ao mundo dourado do "showbiz" dos anos 80".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
19/07/1987

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