Leituras
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de julho de 1976
Cronista, contista, comediógrafo, mas sobretudo jornalista de grande talento, João do Rio (Paulo Barreto, 1881 - 1921) representou, como ninguém, um momento, uma atmosfera, uma fisionomia urbana, um estilo de vida que o tempo transformou, numa transformação mágica de substituição de imagens, deixando para trás e meio fora de fogo esse "poente renovador do modo de escrever em jornal e dos meios de comunicação do escritor com o público", no dizer de Gilberto Amado. O Rio de Janeiro era a sua matéria, o seu cenário, o seu assunto permanente. No conjunto, a obra de João do Rio constitui o mais minucioso vivo e válido dos retratos de uma época, através dos múltiplos aspectos da vida carioca nas duas primeiras décadas do século XX. Em "As Religiões do Rio", que em tão boa hora a Editora Nova Aguiar reedita em sua Biblioteca Manancial - inicialmente publicada em forma de reportagem, na "Gazeta de Notícias", João do Rio descreve os aspectos exteriores dos cultos de origem africana já assimilados no Brasil e de certa forma deturpados pelo sincretismo cultural do nosso meio, sendo hoje praticamente impossível ao estudioso de tais assuntos conhecer as práticas mágico-religiosas dos negros de origem sudanesa ou bantu no Rio de Janeiro do começo do século, sem recorrer ao abundante manancial de informações fornecidas pelas suas reportagens.
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