Leo, um som com novas cores em nossa música
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de outubro de 1991
Dentro da valorização instrumental que tem sido um dos (poucos) aspectos positivos dentro da MPB, o carioca Leo Gandelman é um exemplo da soma do Talento + estudo + disciplina num resultado ótimo. Dono de um sopro belíssimo, este filho de imigrantes russos/ucranianos/lituanos chega a condição de encontrar um público fiel, que, amanhã deverá comparecer ao auditório Bento Munhoz da Rocha Neto para lhe aplaudir como merece (única apresentação, ingressos entre Cr$ 3 a 6 mil).
"Visões" - o nome do show e de seu quarto elepê (Polygram, outubro/91) é o resultado de muito trabalho, pois embora jovem - ainda na faixa dos 30 anos - Gandelman já tem 15 estudos de música clássica (chegou a solista da Sinfônica Brasileira) alternado à vivência popular, com a orquestra do Dancing Brasil e centenas de horas de estúdio (já participou de cerca de 500 discos) e trabalhos com cantoras como Beth Carvalho e Gal Costa, Titãs e Lulu Santos. Sensível e competente, como produtor foi responsável por elogiados discos de Marina ("Virgem") e Gal ("Plural"), num trabalho que lhe deu condições para hoje ter um espetáculo em que sintetiza o que de melhor pode ser apresentado em termos de música instrumental. Amanhã, Leo estará mostrando ao vivo - com ajuda de músicos como Fernando de Souza (baixo), Alexandre Carvalho (guitarra), Cláudio Infante (bateria) e Dudu Trentin (teclados), um repertório de composições próprias, ao lado de alguns standards - como uma emocionante releitura do clássico "Mulambo" (Jaime Florence/Augusto Mesquita). Como no disco - por sinal, já entre os melhores do ano (e que poderá bisar a consagração que recebeu em 1990, com "Solar", que lhe valeu inclusive premiações no Sharp) - o show deve abrir com "Piratas", que na gravação teve toques nordestinos com o acordeon de Osvaldinho e triângulo e pandeiro de Marcos Suzano. Aliás, no registro das dez faixas, Leo arregimentou duas dezenas de notáveis músicos, presentes muito mais pela admiração que tem pelo seu trabalho do que pelos cachês (César Camargo Mariano, Rafael Rabello, Heitor TP, João Bosco, Ricardo Silveira, Márcio Montarroyos, Serginho Trombone entre outros) que deram toques especialíssimos a temas como "Ponto Sem Fim", "Da Banda", "Espíritos da Floresta" e "Tudo Certo" (Cancela), todos de sua autoria. Jazzista sem deixar de ser brasileiro, universal sabendo conservar sua raízes, moderno sem cair em armadilhas de consumo, Gandelman é uma das presenças musicais mais importantes neste final de década. Como ele próprio repete, faz "a música instrumental que leva a cada ouvinte imaginar o que quiser". E realmente em "Visões" temos imagens de sentimentos, emoções e comunicação que fazem bem a todos.
Um disco que vale a pena ser adquirido e um espetáculo - trazido a Curitiba pela incansável Verinha Walflor - imperdível.
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