Ligadão
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de novembro de 1980
PAULO Cesar Pinheiro, 31 anos, hoje o mais atuante (e inspirado) letrista brasileiro, definiu com muita felicidade o trabalho que Dori Caymmi, 37 anos, realiza: suas músicas são uma espécie de pintura, sem se prender a esquemas, escolas e "Ismos" idiotizantes. Considerado como o melhor arranjador de cordas para a da nova geração, pianista de formação erudita e violonista a partir dos 15 anos, Dori tem a voz com o mesmo timbre do seu pai, o imenso Dorival, 64 anos. Irmão da melhor cantora de baladas do Brasil - a incomensurável Nana, e do afinado flautista e compositor Danilo, Dori é um caso especial dentro da MPB. Sua obra como autor não passa das 50 musicas mas entre elas se incluem alguns dos mais belos momentos dos anos 60, com "O Mar é Meu Chão" ou a premiada "Saveiros" (1966, I FIC), parceria com Nelson Mota, com o qual fez outras duas belas musicas: "O Cantador" e "De Onde Vens" (1967). Por incrível que possa parecer - considerando sua intensa atividade como arranjador dos mais disputados, vivendo grande parte da semana em estúdios de gravação, só agora Dori tem seu segundo elepe solo. E que só saiu após ter ameaçado imitar o irmão Danilo e optar pelo esquema alternativo. A Odeon, felizmente, entendeu que seria uma estupidez e deu condições a Dori de fazer um elepe tão maravilhoso quanto o que havia gravado na mesma fábrica há 10 anos. E esta década que passou, com trabalhos espalhados em discos de outros interpretes, trilhas para filmes ("Tati, A Garota", "A Batalha dos Guararapes" etc.) peças de teatro, música incidental etc., se cristaliza na seleção perfeita deste disco. Dori toca piano e violão, canta e faz os arranjos de todas as faixas. Os melhores e mais ajustados músicos se integram. O resultado é um álbum indispensável, para mim, seguramente, na lista dos 10 melhores do ano. Com toda a justiça.
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