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Aramis

Marlene tem que voltar

As negociações já foram iniciadas. Francisco Alves dos Santos, coordenador das atividades de cinema da Fundação Cultural já levou a diretora do Instituto Goethe, professora Heidrun Bruckner a reivindicação óbvia: é injusto que um documentário da dimensão de "Marlene", que na quarta-feira da semana passada encerrou uma nova mostra do cinema alemão realizada na Cinemateca, fique restrita aos 35 espectadores que ali estiveram naquela noite. Obra aclamada internacionalmente, considerada como exemplo do documentário, o filme que Maximilian Schell fez sobre uma das maiores divas do cinema mundial, Marlene Dietrich (Maria Magdalena Von Losch, Berlim, 27/12/1900 - ou seria 1902?) consegue envolver o espectador de uma forma extraordinária, fazendo acompanhar sua carreira, desde seu início, no teatro e cinema alemão, nos anos 20, até dias atuais - nas quais, octogenária, vive no maior recolhimento num apartamento em Paris. Em nenhum momento aparece imagens de Marlene Dietrich idosa, ouvindo-se apenas sua voz. Há 5 anos, ela fez seu último filme, "Apenas um Gigolô", dirigido pelo ator David Hemings. Só a amizade com Maximilian Schell, 57 anos (irmão da excelente atriz Maria Schell, 61 anos, há anos ausente das telas) - que com ela contracenou em "Julgamento em Nuremberg" (1961, de Stanley Kramer), a fez assinar um contrato - repleto de cláusulas (que ela repete, insistentemente nos diálogos) e permitir este documentário sobre sua vida. A idade não retirou da estrela de "O Anjo Azul" (1930, de Sternberg), a ironia, a malícia e o bom humor, que ferinamente, caracteriza suas respostas em off - enquanto que na tela, imagens de sua longuíssima carreira fazem o espectador viajar pelo tempo mágico do cinema. Desde suas primeiras experiências no cinema, como "Ruas Sem Alegria", de Pabsten, mas, naturalmente se fixando em "Der Blaue Engel", de Josef Von Sternberg (1894-1969) - que a consagraria mundialmente na personagem "Lola-Lola", vindo depois para sua fase americana, a partir de "Marrocos" (1930, ao lado do garboso Gary Cooper), a carreira de Marlene se confunde com a própria evolução do cinema. Mulher de fortíssima personalidade, envolvente e apaixonada (seu primeiro casamento foi em 1924, com Rudolf Sieber), "La" Dietrich alcançou uma condição de "Diva" do cinema, paralelamente a de cantora, com inúmeras gravações históricas. Aliás, há dois meses em edição exclusiva para a cadeia Breno Rossi, a CBS lançou a gravação ao vivo, de sua apresentação no Golden Roon do Copacabana Palace, Rio de Janeiro, há 32 anos, quando apresentava-se com seu pianista (e amante) Burt Bacharach - aliás, reverenciado numa seqüência do documentário com palavras do maior carinho. Dependendo da boa vontade do Instituto Goethe, é possível que "Marlene", este importante documentário retorne a exibição, para uma temporada regular. O que seria uma espécie de complemento a leitura de "Marlene D...", autobiografia de Marlene Dietrich (tradução de Janer Cristal, 286 páginas, Cz$ 590,00, Editora Nórdica). Anteriormente, a Marco Zero já havia editado "A B.C. de Marlene Dietrich", também escrito pela própria que se orgulha de ter inspirado nada menos que 52 livros sobre a sua personalidade e seus filmes (fato que repete, também em várias seqüências do documentário). Ao contrário de uma autobiografia convencional, quando elaborada por um profissional, ouvindo-se a personagem, o livro de Marlene Dietrich não tem a preocupação de datas e detalhes, mas valorizando o texto pela sinceridade (e intimidade) com que fala dos maiores nomes do cinema e música com quem conviveu ao longo de quase 6 décadas. Isto faz o livro uma leitura altamente estimulante, acrescentando-se, assim a bibliografia especializada de obras sobre grandes nomes do cinema, que, felizmente, vem crescendo em traduções para o português nestes últimos dois anos. LEGENDA FOTO - Marlene Dietrich: nos bons tempos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/11/1987

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