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Talento dos músicos de OSPA valorizou o belo lp de Marlene

Há 11 anos, logo depois que Antônio Adolfo produzia o seu pioneiro "Feito em Casa", inaugurando uma fase do chamado disco-independente no Brasil, o então atuante Museu da Imagem e do Som, dirigido por Marcelo Marchioro/Cesar Fonseca, organizava um evento que teve uma única mas decisiva edição: um encontro dos primeiros compositores-intérpretes que se lançavam na aventura de realizar seus discos. Em uma década, os discos independentes chegaram a quase mil produções, libertando inúmeros talentos do anonimato e contribuindo para revigorar a música popular. Nos últimos dois anos, devido ao crescente custo de produção alternativa, embora ainda aconteçam alguns empreendimentos heróicos, como o que se propôs a fazer Hilton Barcelos, com seu bem intencionado "Arquétipos". A busca de patrocínio na iniciativa privada é uma fórmula que viabiliza alguns projetos, como fizeram, no ano passado, tanto Roberto Oliva como a pianista Henriqueta Garcez Duarte. Agora, de Porto Alegre, cidade que se tem caracterizado por uma exemplar vida musical, vem um dos mais interessantes álbuns ("Divisor de Águas"), com uma amostragem do talento da compositora-intérprete Marlene Pastro, autora de mais de 200 composições, 43 das quais já gravadas em diferentes discos - especialmente dos que tem documentado os festivais nativistas, nas quais tem sido sempre um dos grandes destaques. Compositora, violonista e cantora, Marlene tem uma obra esplêndida e neste seu álbum (produzido graças ao apoio da Riocell, que, há anos vem auxiliando os compositores gaúchos) reuniu canções com uma temática especial. - a mulher, iniciando por uma exaltação à figura de Anita Garibaldi e detendo-se em diferentes personagens - "Dona de uma Saudade", "Meus 7 Filhos Varões", "Chica Pelega" (neste fazendo um cruzamento de ritmos do boi-de-mamão, de Santa Catarina, com o vanerão gaúcho e a toada singela, emergindo a figura símbolo do contestado, Chica Pelega, cujo ideário é enaltecido na bela letra de Cirila de Menezes Pradi). A imagem da mulher indígena é valorizada em "Vó Bugra", enquanto "Menina", com letra do folclorista Antônio Fagundes, volta-se a "menina criança/menina mulher". "Mulher", tem letra de Sérgio Napp, um dos mais inspirados poetas-letristas gaúchos, vencedor constante dos principais festivais nativistas. Finalmente, "Ana Sem Terra", é uma canção (com letra de Alcy Cheuiche) com forte conotação social, na qual Marlene fala do drama dos bóias-frias. Excelente compositora, unindo-se a letristas da melhor qualidade, Marlene Pastro realizou um disco belíssimo que ganhou maior dimensão graças à participação da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, considerada uma das melhores do País. O maestro Alfred Hulsberg, regente-assistente da OSPA, para onde veio em 1954, contratado como primeiro oboista, fez a concepção dos arranjos, valorizando as participações dos excelentes músicos clássicos gaúchos, que entenderam a importância de se integrar num disco de uma artista de seu Estado, numa valorização que eleva a todos - dando um exemplo que, infelizmente, no Paraná não existe, haja visto a rudeza e frieza profissional demonstrada pela Osinpa. Como salientou o crítico Ilmar de Carvalho, autor dos vários textos que enriquecem o encarte do álbum de Marlene, as orquestrações do maestro Hulsberg e a colaboração dos músicos sinfônicos trouxe grandes soluções harmônicas, valorizando milongas como "Guitarra Crioula" ou "Dona de uma Saudade", duas das mais belas faixas deste disco. Feliz o Estado que tem uma compositora-intérprete da dimensão de Marlene Pastro que, apoiada por músicos sinfônicos de alto nível, realiza um elepê que merece projeção nacional. Será que um dia o Paraná chega lá? LEGENDA FOTO - Marlene Pastro: um belo disco com a participação dos músicos da Sinfônica de Porto Alegre.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/04/1988

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