Mural x Rock In Rio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de março de 1985
Circulando há 20 meses, o quinzenário "Jornal Mural" editado pela Fundação Cultural está chegando agora a 6 mil exemplares quinzenais. Isto foi possível graças ao patrocínio da Coca-Cola, que não só está bancando o custo industrial como também fazendo o trabalho de levar este informativo a todos os seus pontos de vendas.
O editor do "Jornal Mural", jornalista Fernando Alexandre, alagoano de longa quilometragem curitibana - está agora trabalhando no projeto de transformá-lo em publicação semanal, para dar à FCC uma autonomia em termos de divulgação de seus eventos.
O programa mensal que a FCC edita também tem sua circulação ampliada - e impresso em papel da melhor qualidade, com boa arte, tenta fazer algo difícil: antecipar 30 dias de programação. Sujeitas sempre às chuvas e trovoadas.
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O "Jornal Mural" tem sido muito opinativo - dentro da política populista da atual administração. Suas charges e textos não se limitam a informação mas traduzem, claramente, a visão com que a atual diretoria da Fundação Cultural vê a questão cultural. Por isto foi muito significativo o texto publicado no penúltimo número, redigido pelo frei dominicano, compositor, cantor e um dos principais assessores da presidência, Paulo César Botas.
Analisando o "Rock In Rio", Paulo César disse e o "Jornal Mural" divulgou: "A grandiosidade dos shows, a euforia da moçada e a desrepressão evidenciam bem o clima geral de 85: o ano da mudança. No entanto este aparato todo é colocado a nu nas entrevistas dos roqueiros. Eles não são o que aparentam e a grande festa tem a mistificação novelesca dos filmes de Hollywood. Os metaleiros por exemplo, são crentes em Deus e passeiam com seus bebês ao lado de suas vistosas esposas. Apesar disto tudo há um clima de descontração no ar. Bandeiras verde-amarelas cobrem os corpos nus num espetáculo demo-cívico-liberado. E o festival bem comportado, não teve o tempero das celebrações de Woodstock onde artistas e jovens roqueiros denunciavam o genocídio do Vietnã e anunciavam propostas comunitárias de vida e liberdade. Nem a solidariedade do concerto para Bangladesh e muito menos a recente composição inglesa para a Etiópia.
Nada contra as festas. Nada contra o rock. Mas o tempo da enganação terminou..."
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