A música de Carnaval (IV)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de fevereiro de 1975
As musas inspiradores dos compositores carnavalescos este ano não foram as mulheres. Dos 369 marchas, sambas e frevos apresentados nos catálogos - 75 das duas Sociedades arrecadadoras de direitos autorais, apenas há duas marchas com nomes de mulheres: "Marilu", de Zacarias Costa e Jorge da Silva, gravado pelo desconhecido Zacarias Costa, em compacto da misteriosa CBM e "Gabriela", de Bob Junior, José Brasil e Isnard Simone, gravado pelo último em disco RCA Victor. Mas de pouco valeu a feminina inspiração: letras destas duas músicas são de uma pobreza franciscana. Olhem só, como exemplo, os refrões: "Joga água prá apagar o fogo dela/Cuidado com a Gabriela" e "Oh! Oh! Marilu/Japão não é bangu, Marilu". Em compensação, os tamancos que voltaram a ser usados pelas mulheres, viraram, de repente, tema para os carnavalescos: além do bonito "Tamanco Malandrinho", que Tom & Dito defenderam em "Abertura" (Rede Globo de Televisão), chegando a finalíssima, apareceram os sambas "Tamanco da Moda" de Vander de Souza, Antonio Brasil e Luiz Rocha, "Tamanco no Carnaval" de Helton Menezes, José Ventura e Natal e "Tranca truca meu tamanco" de Antonio Valentim e Dougalis.
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O inesperado sucesso que o primitivo João da Praia obteve como "Aonde a vaca vai" (O boi via atrás) fez com que outros compositores fossem atrás do vacum caminho carnavalesco: "Segura o boi" (Boi de Minas) de João Corrêa, Antonio Brasil e Vander de Souza e "O Passo do Boi" do veterano João de Barro & (Carlos Alberto Ferreira Braga, 68 anos), autor de tantos sucessos do passado ("Copacabana", "Touradas em Madri", "Fim de Semana em Paquetá", com Alberto Ribeiro: "As Pastorinhas" com Noel Rosa; "Carinhoso", com Pixinguinha etc.), que, em parceria com David Correa, decidiu tentar aparecer em mais este Carnaval. Mas, um samba que mesmo com toda boa vontade não faz jus ao seu passado de letrista inspirado. Confiram:
É bumba, Bumba meu boi, bumbá (4 vezes)
Amarrei meu boi no pasto
Mas não sei para onde ele foi/Foi a vaca malhadinha/
Que extraviou meu boi!/Venha ver como é,/Para contar
como foi/A vaquinha malhada/No passo do Boi/Oi, gira,
gira, gira.
LEGENDA FOTO : João de Barro
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