A paixão de Walter por Francisco Alves
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de julho de 1988
Walter Teixeira Alves é um homem invejado, admirado mas até odiado por centenas de apaixonados pela MPB. Conseguiu fazer daquilo que era um hobbie - o amor pela música brasileira tradicional, num meio de vida: pouco a pouco foi formando uma das mais preciosas coleções de 78 rpm, com os grandes intérpretes do nosso cancioneiro - que só encontra paralelos nos acervos do potiguar Gracio Barbalho, no paulista Miecio Café e no permambucano-curitibano Leon Barg, para só citar três exemplos - embora exista uma dúzia de outros fanáticos pela velha guarda que também possuiu coleções fantásticas.
Trabalhando com a venda de discos usados em São Paulo, Walter fez de uma pequena loja no porão de um velho prédio na Praça da Sé, um local procuradíssimo por colecionadores - não só de MPB, mas também de outros gêneros, já que por seus contatos secretos (ao menos nunca revelou a ninguém) conseguiu preciosidades há muito esgotadas - e por ele devidamente valorizadas.
De aparência dura, antipático num primeiro contato, Walter é, entretanto, um leão na busca de preciosidades musicais, dos frágeis 78 rpm ou pioneiros lps e 45 rpm que registram a evolução da música brasileira.
Nos últimos anos, Walter mudou o endereço de sua loja e, atento ao mercado, passou a trabalhar mais com raridades estrangeiras - mas sem deixar de, pessoalmente, manter seu radical amor a uma dúzia de nomes sagrados da época de ouro da MPB. A sua paixão maior é Francisco Alves (1898-1952), cuja discografia orgulha-se de possuir por completo, dando-se ao luxo de negociar as duplicatas (a peso de ouro, evidentemente, certas raridades). Há alguns anos, Walter já havia feito algumas discografias de alguns intérpretes, em modestas edições mimeografadas, de circulação restrita aos fregueses de sua loja. Agora, entretanto, estimulado por outro colecionador, Roberto Gambardella (e também proprietário de um "sebo" de discos. Casa Lomuto, Pátio do Colégio 5, 6º andar, sala 8, CEP 01016, fone (011) 37-67-83, São Paulo) e dois pesquisadores entusiastas - Miécio Caffé e Abel Cardoso Júnior - publicou em forma de livro a "Discografia de Francisco Alves" (169 páginas, capa de Miécio Caffé, edição Lebasponte).
Na introdução, Abel, Gambardella e Miécio lembram que a "discografia é o dicionário dos discos. Aquilo que a primeira vista pode parecer apenas relatório árido e tedioso, na verdade é o instrumento básico para todo estudo sério da música popular. A discografia elimina as dúvidas, previne os erros, baliza o tempo e pondera os valores artísticos".
Walter Teixeira Alves, 49 anos - e que havia elaborado as discografias de Carmen e Aurora Miranda. Gastão Formenti e Orlando Silva - fez agora um trabalho completo, indispensável a quem pretenda conhecer a obra do "Rei da Voz". Além do levantamento das gravações, há uma nota biográfica sobre "Chico Viola" e informações de como eram feitas as gravações nos anos 20 e 30.
LEGENDA FOTO - Francisco Alves: discografia completa.
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