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Aramis

A poesia de Emily

Dizem que a palavra morre Ao ser falada. Digo que a palavra nasce, Pronunciada. É a palavra, pronunciada, que faz nascer uma peça marcante e que merece ser vista neste fim-de-semana. Precedida de importantes premiações - Mambembe de revelação e Moliéres especiais ao diretor Miguel Fallabela e Mambembe de produção a João Batista Pinheiro, "Emily" de William Luce, chega para uma curta temporada (sexta-feira a domingo, auditório Salvador de Ferrante, 21 horas). Para fazer uma campina junto uma vespa e uma flor Vespa, flor e fantasia Ou apenas fantasia Se faltarem vespa e flor Partindo da vida dramática da escritora e poeta norte-americana Emily Dickinson (1830-1886), William Luce escreve "Emily - La Belle of Amherst", uma peça que fez sucesso em vários países e ganhou, no Brasil, primorosa tradução de Maria Julieta Drummond de Andrade, filha de Carlos, nosso poeta maior. Maria Julieta fez uma tradução criativa do texto de Luce e, naturalmente, respeitosa, dos poemas de Emily Dickinson ("Procurei conservar certas liberdades, características da autora, que captava com perfeição o feitiço e a cintilação das palavras, mas dava pouca importância às regras da sintaxe e as técnicas rígidas do verso tradicional"). Um espetáculo de poesia e vida, com cenografia de Maurício Sette e figurinos de Kalma Murtinho, ganhou aplausos em suas temporadas no rio de Janeiro e São Paulo. Edelcio Mostaço, da "Folha de São Paulo", lembrou, por exemplo, que "Emily" representa um tipo de teatro todo especial, onde a perfeição dos mecanismos de artifício está a serviço da criatividade artística e corre em paralelo com as vibrações emocionais. Falando sobre o diretor Miguel Falabella, Mostaço reconheceu que "dá mostras de uma competência insuspeitada para um estreante na encenação, solidamente apoiada pelo deslumbrante ambiente cênico de Maurício Sette. O cenógrafo aliou fragmentos arquitetônicos neoclássicos norte-amercianos a um jardim e um trigal, que se entrelaçam em harmônica composição, fornecendo a visualidade mais bonita para a exposição da vida de "Emily". Tudo está perfeito nesta produção efetuada com carinho: a iluminação de Aurélio de Simoni, os figurinos de Kalma Murtinho, a trilha sonora, os desempenhos técnicos, a tradução de Maria Julieta Drummond de Andrade". xxx Mais do que tudo, o belo é a poesia de Emily Dickinson: Se acalmei um coração Não foi inútil viver Se evitei alguma dor Se te livre da aflição E ao pássaro dei calor Sem ninho, na escuridão, Não foi inútil viver.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
11
05/12/1985

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