Só com ajuda do Banestado a Maria chegou ao Guairão
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de agosto de 1989
Só mesmo com uma generosa subvenção do Banestado (ao redor de NCz$ 60 mil) foi possível as duas apresentações de "Maria de Buenos Aires" em Curitiba, no último fim de semana. Com um custo de produção que fica em mais de US$ 30 mil por apresentação, a bilheteria - que não alcançou nas duas noites (sexta-feira e sábado) sequer US$ 20 mil, cobriria a despesa. Afinal, são 36 pessoas, entre cantores, músicos e pessoal técnico, mais cenários imensos - que custaram US$ 30 mil para chegar ao Brasil.
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Por isto mesmo é que, numa ironia, "Maria de Buenos Aires" não chegará a Buenos Aires. Edna Gomes Pinto, da Associação dos Autônomos do Brasil - que bancou a temporada brasileira do espetáculo - comentava que apesar de todos os esforços não foi possível conseguir um mecenas para viabilizar a ida da ópera-tango a Buenos Aires. Além da crise financeira na Argentina, o Teatro Colon está em obras - "e outro local não seria apropriado para um espetáculo desta dimensão", diz Bruno Pizzimiglio, 45 anos, italiano, maestro da orquestra formada em São Paulo, com 22 músicos (entre eles, o violonista Paulo Belinatti e o baixista Stroetter), que estão atuando nas apresentações no Brasil. No final de semana, no Rio de Janeiro, o libretista Horácio Ferrer e o autor da música Astor Piazzolla, estarão presentes. Mas sentados em poltronas bem distantes: há muitos anos que há ódio mortal entre os ex-parceiros.
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A Basf patrocinou a temporada de "Maria de Buenos Aires" em São Paulo e Rio de Janeiro (em Curitiba, o Banestado, generosamente, assumiu a função) e, em troca, ganhou os direitos de editar um álbum com as músicas da ópera, bem como um vídeo. A única gravação de "Maria de Buenos Aires" foi feita há 21 anos, na Trova, em Buenos Aires - da qual a Polygram fez uma edição reduzida (um elepê ao invés de dois) há dez anos.
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Jorge Zulueta, 54 anos, responsável pela adaptação musical e pianista do espetáculo e Jacob Romano, que fez a adaptação cênica, aproveitaram a tarde livre de sábado e foram ao Cine Luz assistir "Minha Secretária Brasileira" (Springtime in the Rockies, 1942, de Irving Cummings) e saíram entusiasmados com a performance de Carmen Miranda (1909-1955), que divide aquele musical com Tom Payne, César Romero e Betty Grable - além da orquestra de Harry James, então em plena forma.
Romano teve um momento de emoção na sexta-feira: um funcionário do Guaíra lhe mostrou um programa do espetáculo "Histerias", que o grupo Accion Instrumental Buenos Aires, do qual foi um dos funcionários (em 1968) apresentou há 7 anos no mesmo auditório ("Hysterie" foi criado para a Bienal de Veneza-1981). Detalhe: a passagem daquele grupo por Curitiba aconteceu no dia 11 de agosto - mesma data em que voltou a aqui se apresentar com "Maria de Buenos Aires". O Accion Instrumental tem feito montagens com peças musicais de autores de vanguarda como Arnold Schoenberg, Satie e John Cage.
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