Pugliesi, aos 80 anos, traz o melhor do tango
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de julho de 1986
Em Curitiba existe um público cativo pelo tango. Desde aquele que há anos estimula o simpático Edgardo, em casas tipo "Tangos & Boleros" nas noites de Santa Felicidade, até o mais requintado, fã de Astor Piazzola, sempre com boas casas quando por aqui se apresenta.
É bem verdade que empresários inescrupulosos têm trazido medíocres espetáculos caça-níqueis, tipo "Uma Noite em Buenos Aires", com artistas de terceira categoria - mas que "entusiasmam" os que curtem milongas e danças típicas.
Felizmente, agora, pela primeira vez no BRasil, uma legenda viva do tango aqui estará, na próxima segunda-feira, 21: Osvaldo (Pedro) Pugliesi, 80 anos (Vila Crespo, Buenos Aires, 2/12/1905), compositor, pianista, arranjador e regente há 61 anos.
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Como dimensionar a importância de Osvaldo Pugliesi para a música argentina?
Pela idade, obra, coerência, pode-se aproximá-lo de nosso Radamés Gnatalli, também 80 anos, também pianista, compositor, arranjador. Modesto, embora com 650 gravações - a partir de 15 de julho de 1943, quando fez na Odeon argentina o seu primeiro 78 rpm ("El Rodeo" e "Farol"), Pugliesi tem apenas 35 de suas composições gravadas. Na última sexta-feira, em São Paulo, antes de estrear no Anhembí, explicava a Maria Rita, que gerencia sua temporada no Brasil:
- "Eu sempre achei mais importante divulgar o trabalho dos outros compositores do que as minhas próprias composições".
E desde 1924, quando fez seus primeiros trabalhos profissionais, como pianista do cinema mudo, Pugliesi vem divulgando o tango - música-expressão da alma porteña, num trabalho nunca interrompido, embora muitas vezes eclipsado. Comunista desde 1936, foi perseguido pelo ditador Peron e, impedido muitas vezes de trabalhar, era homenageado pelos músicos argentinos, que, como protesto silencioso, colocavam uma flor roxa em seus instrumentos - identificando que a ausência de Pugliesi no palco se devia a motivos políticos.
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Um dado que dá a dimensão da importância de Pugliesi: em seu básico "El Libro Del Tango" (Editorial Gaerna, 1977), Horácio Ferrer dedica três copiosas páginas para explicar a presença de Pugliesi dentro da música argentina - como instrumentalista, compositor e regente. Ferrer é definitivo ao afirmar: "Pela valorização integral de suas idéias musicais, da interpretação, da expressão e da realização técnica, é o maior estilista em seu instrumento."
Aquilo que Elvino Vardaro (1905-1971) alcançou com o violino, e Aníbal Troillo (1914-1975) no bandoneon e Carlos Gardel (1890-1935) no canto, Pugliesi obteve no piano. Vindo a geração histórica dos tangueiros de 1925 - Delfino, Pereyra, Rizzuti, Cobián e que Francisco De Caro (1898-1976) levou ao plano orquestral com o vigor de uma legítima escola, Pugliesi sem nunca ter deixado o tango tradicional foi um dos poucos nomes consagrados da Argentina que soube entender a revolução proposta por Astor Piazzola, nos anos 50 - e que, de certa forma, até hoje não foi compreendida por milhares de argentinos - o que inclusive faz com Astor viva no Exterior e, mesmo com todo o seu amor por Buenos Aires, ali permaneça poucos meses por ano.
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Um teste. Alguém conhece um disco de Osvaldo Pugliesi?
Embora nestes 43 anos em que vem gravando - de 1943 a 1960 na Odeon depois na Stentor e Philips - praticamente nada de sua obra aqui foi editada. A EMI-Odeon, consta, vai laçar agora um de seus elepês - pelo menos uma amostragem registrada de dua arte, que, ao vivo, está sendo aplaudida neste fim-de-semana em São Paulo e que será levada a Brasília (15/16), Rio de Janeiro (18/20), antes de chegar a Curitiba, segunda-feira, - para uma única apresentação no Teatro Guaíra.
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