Taborda, um gaúcho de muito bom humor
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de abril de 1986
Ex-motorista do Palácio Iguaçu nos anos 60, o gaúcho Ivan Taborda acabou encontrando seu espaço no Sudoeste do Paraná. Acordeonista e cantor, Taborda - gaúcho de vastos bigodes, aparência saudável do homem do Sul (o que o fez, inclusive, ser requisitado para muitos comerciais de televisão) tem já uma discografia ampla. Buscando o humor e o informal em suas gravações - preferindo, aliás, algumas vezes ficar mais como contador de causos do que cantador, Taborda tem um público seguro que garante a absorção de seus discos no interior do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Seu novo lp ("As Proezas do Pedro Bino", Chantecler) - 15º de uma carreira de muitos êxitos - alterna as suas próprias (e bem humoradas) composições - como o contrapasso que dá título ao disco, os xotes "Gaúcho de Bossoroca", a toada milongueira "Cantigas do Cruzador", a chamarrita "Minha Filha", também músicas de outros autores do Sul. É o caso do delicioso "É Mentira Dele" do saudoso Pedro Raimundo (Imaruí, SC, 29/6/1906 - Rio de Janeiro, 9/7/1973) - intérprete regionalista cuja vida e obra acaba de merecer um ensaio do pesquisador Israel Lopes, de Santa Maria, RS - com edição prevista pela Editora Tchê!, de Porto Alegre, na série "Esses Gaúchos" (embora Pedro Raimundo fosse catarinense de nascimento).
Ivan Taborda é um intérprete e criador de forte personalidade, que sem se fixar no Nativismo - inclusive por estar há anos fora do Rio Grande do Sul - traz músicas interessantes e bem-humoradas, que merecem atenção.
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Mineiro de Andrades, cantor desde os 7 anos - formando dupla com o irmão Mauro - Marcelo Costa é, a exemplo de Sérgio Reis, um intérprete que busca sempre um repertório de gabarito, capaz de aproximá-lo de platéias mais exigentes mas identificadas à música do interior. De seu pai, João Domiciano, aprendeu muito sobre catira - um dos gêneros mais autênticos do interior do Brasil. Dividindo seu interesse entre o futebol (jogou em várias equipes juvenis de destaque como Guarani e Ponte Preta), e a música, começou (também como Sérgio Reis) cantando músicas românticas. Formado em Direito e Educação Física pela Unicamp, não desistiu da carreira musical apesar de perspectivas em outros campos profissionais. Sua primeira gravação de sucesso foi "Hei de Ser A Esperança de Tua Vida", ao qual se seguiram "Locutor Apaixonado", "Ba-barbaridade", "Se cutuca dói" e "Choro da Coteira", entre outros.
Com boa formação cultural e, sobretudo, bom gosto musical, Marcelo Costa fez elepês simpáticos, que podem (e devem) ser vistos sem preconceitos elitistas - como válidas tentativas de aproximar o rural do urbano.
Seu novo lp, pela RGE, traz composições de Nonô Basílio ("Velho Macaco"), a dupla José Fortuna-Paraíso ("Nós Amamos Tanto"), Goia ("Última Esperança"), além de suas próprias composições como "São Benedito", "Triste Despedida" e "Placar do Nosso Amor".
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Para não ficar apenas no regionalismo e nativismo, a ACIT, etiqueta de Caxias do Sul, com distribuição da Fonobrás, lança um cantor brega gaúcho, mais para a linha rurbana: Augusto Cesari. A começar pela música que dá título ao lp "Na Hora do Banho"), sente-se o espírito deste disco de público específico. Um acordeonista conhecido dos meios gaúchos, Bruno Neher, teve participação especial em "A Menina dos Meus Olhos". Em condições de concorrer com qualquer brega do eixo Rio-São Paulo, Augusto César gravou músicas como "Por Favor, Toque Essa Música" e "Férias de uma Estudante" de Luiz de Lara, ou "A Menina dos Meus Olhos" de um certo Santino Ferreira.
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Aos 44 anos - completados no último dia 6 de fevereiro, Jair Rodrigues (de Oliveira), paulista de Igarapava, insiste em manter a mesma imagem sorridente e otimista. Sua carreira há muito já passou a dar sinais de cansaço - ao ponto de ter deixado a Polygram onde ficou por quase 20 anos - e Jair não muda. Ou melhor, não mudava. Agora, integrando o elenco da chamada Nova Copacabana, Jair decidiu deixar de ser apenas o insistente cantor de sambas que marcaram sua juventude e diversificando o repertório incluir até uma música sertaneja, "Majestade, o Sabiá" (Roberta Miranda), com a participação da dupla paranaense Chitãozinho e Xororó. Uma boa abertura, para chegar a novos públicos - num disco em que misturou temas bregas ("Todo Brasileiro", Cláudio Fontana) a uma longa faixa de pagodes e, apelativamente, gravar "A Feijoada", que pelo seu duplo sentido malicioso, teve sua divulgação proibida nas rádios.
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Marcando sua associação com a Philadelphia International Records (depois da Motown, o selo de maior sucesso da música negra), a Manhattan Records (no Brasil, representada pela EMI-Odeon) está lançando o novo lp do grupo O'Jays ("Love Fever"). Desde 1959 que este trio vem emplacando sucessos como "Back Stabbers", "For The Love Of Money" e "I Love Music". Agora, neste primeiro lp no selo Manhattan ("Love Fever"), Eddie Levert, Walter Williams e Sammy Straind, mantendo sua clássica harmonia vocal, aprofundam-se nas mais recentes técnicas e arranjos do Rhythm & Blues e pop. Entre os novos colaboradores de estúdio do trio está o arranjador-produtor Reggie Griffin. No ano passado, Griffin foi premiado pela co-produção de "I Feel For You", sucesso de Chaka Khan. Neste retorno do The O'Jays ao mercado brasileiro, dois destaques: "Just Another Lonely Night" e "What a Woman".
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Em disco-mix, a EMI-Odeon antecipou alguns hits que saem também em lps neste início de temporada: o grupo Plebe Rude (já com o disco na praça) foi catipultuada em "Até Quando Esperar", enquanto outros conjuntos como Classe Média ("Lado B"), Zero ("Agora Eu Sei"), e Muzak ("Onde Estou"), também foram testados no mercado com as faixas mais comercialmente digestivas. Em outro disco mix, chegaram os novos hits de Vinícius Cantuária ("Banda Nova"), Kiko Zambianchi ("Primeiros Erros"), 14 Bis ("Nuvens"), Legião Urbana ("Soldados") e Mercado Comum ("Hora de Amor"). A mesma técnica de marketing promocional foi adotada para os lançamentos internacionais, antecipando as faixas que a gerência de vendas classifica de "quentes" para serem divulgadas: "Talk To Me" com Stevie Nicks, "West End Girls" com o Pet Shop Boys, "If Looks Could Kill" com Heart; "Tarzan Boy" com o Baltimore; "Goodbye Is Forever" com Arcadia; "Castles in Spain" com Armoury Show; "Apartheid is nazism", com Alpha Blondy; "Who do you love" com Bernard Wright. Para não ficar apenas em produtos novos, duas cantoras já conhecidas também catipultuadas em mix: Kate Busch com "Running up that hill" e Diana Ross ("Chain Reaction").
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