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Theo Angelopoulos, novo mestre do cinema grego

Numa feliz coincidência, na mesma noite (28 de novembro), em que um público formado basicamente de jornalistas e cineastas emocionava-se em assistir a primeira projeção no Brasil de "Fuga na Névoa" - dentro da Mostra Informativa Internacional do FestRio - anunciava-se a escolha deste filme grego como merecedor do Felix, o Oscar instituído pela comunidade européia de cinema em 1988 (quando o premiado foi o polonês Krzystof Kieslowski com seu "A Short Film about Killing", primeiro episódio do decálogo, trazido a Curitiba no rastolho da XII Mostra Internacional de Cinema). Se estivesse em competição, "Topio Stin Omichli" - título original de "Fuga na Névoa" - seria, sem dúvida, o grande premiado. Entusiasmou tanto aos jornalistas que por sugestão da inteligente Susana Schild, do "Jornal do Brasil", foi até cogitado em se criar um prêmio especial para a sua distinção - o que afinal não aconteceu. Lamentavelmente! Como vários outros dos filmes levados ao FestRio/Fortaleza, este filme também tem crianças como personagens. Alexandre, 6 anos e Voula, 10 anos, deixam o bairro pobre em que vivem com a mãe, em Atenas, em direção a Alemanha. Querem conhecer o seu pai - que teria emigrado para aquele país. Na verdade, uma mentira contada pela mãe para esconder que são filhos ilegítimos. As crianças passam os 126 minutos de duração do filme embarcando em trens, sendo descobertos, voltando a casa e retornando a estrada, no sonho de encontrar o pai que não conhecem. Em sua jornada encontram um saltimbanco que os auxilia, a menina Voula é violentada por um caminhoneiro, acaba quase se prostituindo, enfrentam dificuldades. A última imagem é simbólica: após cruzarem um rio estariam na Alemanha. Ou teriam morrido. Seria tudo um sonho? Não importa. Theo Angelopoulos, 53 anos, hoje o mais admirado cineasta grego, realizou uma obra-prima que no festival de Veneza do ano passado recebeu o Leão de Prata de melhor direção, mais os prêmios da Fipresci (imprensa internacional), Cicae Arthouse, Ocic e Pasinetti. No Festival de Chicago, mais duas premiações: Gold Hugo como melhor direção e a placa de prata pela fotografia (Giorgos Arvanitiz). Formado pela Universidade de Atenas e tendo frequentado o famoso IDHEC (Instituto de Altos Estudos Cinematográficos) em Paris, Angelopoulos foi crítico (1946/67) de cinema do jornal "Allagi", em Atenas, quando começou a fazer suas primeiras experiências cinematográficas ("Formix Story", que não concluiu; "Boradcast"). Em 1971, com "Reconstruition" já obtinha prêmios no Hyéres Film Festival e o George Sadoul Award. "Days of 36" chegou a Cannes em 1973, e exibido em Berlim ganhou o prêmio da Fipresci. Entre 1974/75 realizou "The Travelling Players", selecionado para Cannes (novamente prêmio da crítica) e que conquistou troféus na Bélgica, Itália (um dos melhores filmes entre 1965/75), Japão e Inglaterra (melhor filme do ano, 1976), "The Hunters" (1976/77), selecionado para Cannes obteve o Golden Hugo Award em Chicago. Em 1980, "Megalexandros", lhe deu o primeiro Leão de Ouro em Veneza e mais os prêmios da Fipresci e do New Award. Em 1982, Angelopoulos fez um documentário sobre Atenas e, em 1984, com "Viagem Para Citara", saiu de Cannes com o prêmio de melhor roteiro e mais uma vez premiado pela Fipresci (este filme foi exibido em São Paulo, na V Mostra Internacional de Cinema e levado depois ao I FestRio, em mostra paralela). Em 1986, Angelopoulos voltaria a concorrer em Veneza com "O Apicultor", que apesar de ter Marcelo Mastroianni como ator principal, não conseguiu distribuição comercial no Brasil. Agora, com a repercussão que "Fuga na Névoa" começa a ter - especialmente pelos elogios dos jornalistas que o assistiram - espera-se que, afinal, apareça um distribuidor disposto a quebrar o ineditismo em torno de Angelopoulos para o nosso público e traga seus filmes. LEGENDA FOTO - Premiado com o troféu Felix - o Oscar do cinema europeu - há poucos dias, "Fuga na Névoa", do grego Theo Angelopoulos, é uma obra-prima, até agora só mostrado em Fortaleza, durante o FestRio.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/12/1989

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