Um basta na exploração dos estacionamentos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de dezembro de 1989
O prefeito em exercício, Algacy Tulio, deverá se preocupar neste curto período em que substitui a Jaime Lerner - desde o último domingo, em Nova Iorque, onde passará o Natal - com uma importante questão: irregularidades que estão ocorrendo em alguns estacionamentos de Curitiba. No mínimo, Algacy Tulio, deputado estadual e ex-vereador, atento com problemas que atingem os contribuintes, deverá apoiar um oportuno projeto que o seu correligionário do PDT, vereador Jair Cezar, apresentou há seis meses na Câmara e que deverá ir ao plenário tão logo a Câmara retome seus trabalhos.
Preocupado e indignado com o verdadeiro assalto que alguns estacionamentos particulares vem praticando contra os usuários, o vereador Jair Cezar, 50 anos, advogado e corretor de imóveis, apresentou em 7 de julho último, o projeto de número 132, que vem regulamentar a atividade dos estacinamentos, até hoje atuando sem maior fiscalização. O projeto do vereador pedetista vai obrigar os estacionamentos a fracionarem as tabelas de preços a partir da segunda hora, acabando com a exploração que representa a cobrança de uma hora a mais mesmo quando o usuário retira o carro apenas 10 ou 15 minutos após o primeiro período. Também a exigência de que os estacionamentos assumam a miníma responsabilidade em relação aos veículos sob sua guarda consta do projeto, já aprovado nas comissões de legislação, urbanismo e bem estar. Atualmente, apesar de tarifas escorchantes - que chegam até a NCz $ 20,00 ou NCz$ 25,00 a hora - os donos de estacionamento não aceitam qualquer responsabilidade, mesmo quando os veículos são vítimas da inabilidade dos manobristas. O vereador Jair Cezar reuniu um grande dossiê mostrando irregularidades para subsidiar o seu necessário projeto-de-lei.
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Mas o mais grave é o que vem ocorrendo agora, conforme testemunhamos pessoalmente no último sábado, dia 16, no Estacionamento "21" ( Praça Osório, 21, ao lado do edifício Ana Cristina): está havendo alterações nos relógios que marcam o tempo de permanência dos veículos ali deixados.
No sábado, após a segunda sessão da noite (22 horas) do cine Astor, várias pessoas que ali deixaram seus veículos, surpreenderam-se com a exigência do mal educado responsável pelo estacionamento, que se chamaria Alberto Verner, cobrando NCz$ 54,00 (cinquenta e quatro cruzados novos), sob a alegação de que já passava das 24 horas. Entretanto, a sessão do cinema - conforme depoimento do gerente Osvaldo Scaramela e de outros funcionários - terminou exatamente às 23h58 (tanto é que a meia noite, ali teve início uma pré-estréia de "O Segredo do Abismo"). Entre a saída do cinema - na Rua Voluntários da Pátria ao estacionamento - não há mais do que 100 metros e, portanto, seria impossível que o horário transcorrido fosse de 30 minutos como esbravejava o "sr. Alberto". Os relógios de várias pessoas confirmavam: não passava ainda de dez minutos da madrugada de domingo - portanto meia noite e dez - quando a fila se encerrou, mas o empregado do estacionamento, exigindo o pagamento, gritava:
- "Não interessa o relógio de "voceis". O que interessa é o que o "meu" relógio está marcando!
Alguns clientes pagaram. Outros prostestaram, em tom firme, levando-o a cobrar apenas as duas horas devidas - e confirmando-se assim que estava pretendendo aplicar um golpe contra os usuários.
Como a Delegacia de Crimes contra a Economia Popular estava fechada naquela noite, não foi possível fazer o registro do fato mas ao tomar conhecimento desta irregularidade, o prefeito Algacy Tulio entendeu a necessidade de que seja intensificada a fiscalização nos estacionamentos - desde a questão de segurança (muitos deles não dispõem de extintores de incêndio e funcionam de forma precaríssima) até a questão de se verificar adulteração nos relógios-ponto que marcam o tempo de permanência nos veículos. Estes relógios deverão ser auferidos e lacrados, para evitar que "encarregados" como o do Estacionamento "21", possam adiantá-los e fazer cobranças indevidas.
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O Estacionamento "21" seria de propriedade de um empresário de Londrina, e teria como responsável local o sr. Valter da Silva Ramos (embora na lista telefônica, seu aparelho, 224-8944, esteja em nome do sr. Gregorio Araújo) e consta que a área do imóvel pertence ao ex-governador Jayme Canet Junior. Em Curitiba existem cerca de 120 estacionamentos, dos quais 60 proprietários já se filiaram a Associação Profissional das Empresas de Garagem, Estacionamento, Limpeza e Conservação de Veículos, fundada há apenas quatro meses e que tem na presidência o sr. David Olimpio Carneiro. Uma das razões que levou a criação desta associação - que deverá ser transformada em sindicato - foi o projeto apresentado pelo vereador Jair Cezar.
Em 10 de agosto último, no Restaurante Iguaçu, em Santa Felicidade, houve um jantar-reunião dos proprietários de estacionamentos, convocados através de circular no qual era enfatizada a necessidade de os mesmos se unirem para combater o projeto que visa regulamentar o seu funcionamento.
A Prefeitura de Curitiba deve estudar estímulos para construções de edifícios-garagens no centro da cidade, já que a política de impedir novos estacionamentos nos últimos anos mostrou-se apenas beneficiária dos que fazem gato-e-sapato dos usuários, oferecendo serviços precários. O ex-presidente do Ippuc, arquiteto e urbanista Lubomir Ficinski, há anos já vem defendendo a necessidade de se criarem novos estacionamentos - e que os mesmos sejam rigorosamente disciplinados. Agora, o vereador Jair Cezar, com seu projeto, colocou o dedo na ferida.
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