Uma boa reportagem
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de abril de 1975
Banas - Revista Industrial e Financeira, em seu número 1088, semana de 10/16 de março de 1975 (48 páginas, Cr$ 5,00) dedicou seu informe especial para uma ampla e sincera análise da fonografia brasileira: "Disco/A Face Oculta da indústria fonográfica". Em oito páginas, a influente publicação mostra os problemas desta rendosa indústria, que teve um aumento de 400% no período de 1965/72, atingindo hoje a expressiva soma de US$ 50 milhões anuais. Os editores da reportagem, Maria da Penha Delia e Marcelo Bairão, após fazerem uma breve história do disco em nosso país, destacando o pioneirismo de Frederico Figner, dono da Casa Edson, tocam em vários assuntos relativamente delicados, mas que merecem ser esclarecidos. Eis um trecho:
"Além do silêncio, outros fatos evidenciam o pouco interesse das gravadoras pelo compositor nacional. No ano passado, por exemplo, a Odeon recebeu uma saudável injeção de L$ 1.100 mil da EMI, sua matriz britânica, com o objetivo de "manter a preponderância no mercado de discos no Brasil". Ao mesmo tempo, a mesma gravadora executava cortes drásticos em seu elenco, demitindo João Donato e a dupla de compositores e cantores Luis Carlos Sá e Gutemberg Guarabira, além de Nelson Cavaquinho. A Philips, por sua vez, dispensou Macalé, Sérgio Sampaio e Luiz Melodia; a RCA cortou de seus quadros o cantor Carlos Galhardo (trinta anos de casa) e a Continental fez o mesmo com Noite Ilustrada (nota do editor: agora contratado pela Phonogram). Dramático, porém, foi o episódio ocorrido com o compositor Cartola, uma das figuras mais marcantes para gravar aquele que seria o primeiro long-play de sua carreira, Cartola foi acolhido com a seguinte frase: "Não dá. Aqui não é asilo de velhos". A única etiqueta que se interessou pela gravação foi a de Marcus Pereira, e o disco de Cartola ascendeu às paradas de sucesso, vendendo imediatamente mais de dez mil cópias".
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