Vocalistas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de outubro de 1978
No campo da música vocal, surgida nas últimas semanas, temos presenças das mais válidas, ao lado de reaparecimentos decepcionantes - bem como estréias auspiciosas. Eis os registros.
COBRA DE VIDRO - Um dos mais elogiados espetáculos musicais do ano, reunindo no palco as vozes perfeitas do MPB-4 e Quarteto em Cy, o show "Cobra de Vidro" que estreou no Teatro Carlos Gomes, no Rio, a 13.04.78, não pode vir a Curitiba por duas razões: o alto custo da produção e o afastamento de Dorinha Tapajós, agora casada com um jornalista e às vésperas da maternidade. Mas para compensar, temos o registro dos melhores momentos do espetáculo (lp Phonogram, 63499387, setembro/78), com MPB-4-CY, mostrando um repertório excelente que engloba temas de Nascimento ("Nada Será como Antes", "O Cio da Terra"), Sidney Miller ("A Estrada e o Violeiro"), Chico ("Não Existe Pecado Ao Sul do Equador"), Gil ("Oriente"), Suely Costa ("Amor, Amor") até Lennon/McCartney ("Because"), Villa-Lobos ("Fuga") e Violeta Parra ("Me Gustan Los Estudantes"), além de uma nova canção de Dori Caymmi/Paulo Pinheiros ("Guararapes") e um tema instrumental de Luiz Claudio Ramos intitulado simplesmente "5/6/65".
MARÍLIA BARBOSA - Conhecida apenas por compactos e participações em trilhas sonoras de telenovelas, Marilia ganha afinal seu primeiro lp ("Filme Nacional", Sigla/agosto/78), que abre com um antigo tema de Futo-Mariozinho Rocha, "Manifesto", que há 11 anos chegou a dar título a um bom grupo vocal, ma que perdeu um pouco de sua força com o passar do tempo. Marília buscou músicas de autores jovens - Rita Lee ("Melodia Inacabada"), Dom Beto ("MinhAlma"), Márcio Proença ("Filme Nacional"), Djavan ("Total Abandono" e "História do Cantador"), Renato Teixeira ("Antes Que Aconteça"), incluindo também "Coração de Candango" de Egberto Gismonti/João Carlos Pádua. Bons instrumentistas amparam suas interpretações.
COM AMOR E CARINHO - Aos 30 anos de carreira, 50 de idade, Angela Maria (Abelim Maria da Cunha, Macaé, RJ, 13/5/1928) continua a ser uma das mais populares intérpretes brasileiras, dividindo com Nelson Gonçalves (Santana do Livramento, RS, 21/6/1919), uma faixa muito grande do público brasileiro: aquele que curte a música romântica, piegas, que fala de amor & dor. Ambos estão na praça, com discos que não fogem deste campo. A Sapoti, saindo da Copacabana (onde se encontrava há mais de 15 anos) e estreando na Odeon com um lp produzido por Miguel Plopschi, que reúne o que há de mais convencional ao seu estilo: "Babalu" (Margarita Lecuana), "Adeus Querido" (Edmundo Paraná/Floriano Faissal) e até "Mamãe" (Herivelto Martins-David Nasser"), que tem como música incidental "Wyen You Wish Upon A Star" (que foi tema do desenho animado "Pinocchio"), dividido com Agnaldo Timóteo (originalmente, em 1953, foi lançado por João Dias e Angela). Naturalmente, os boleristas Jair Amorim/Evaldo Gouveia comparecem ("A Partida", "Se Alguém Disser Adeus", "Choro Especial"), além de outros do mesmo estilo, como Cláudio Fontana ("Prisioneira"), Fernando Mendes ("Amante Bandido"), Nelson Gonçalves, maior vendedor de disco da história da RCA, grava 2 a 3 lps por ano, em pouquíssimas horas e é o cantor com maior número de discos em catálogo. "Eu Te Amo" traz 5 novas músicas de Adelino Moreira, 4 do próprio Nelson, ao lado de outros autores menos votados (Erasmo Silva, Silas Monte etc.). Desta vez Nelson não se preocupou em sofisticar o seu repertório. Ao contrário, dá ao seu público simples aquilo que ele quer.
ADRIANA, uma cantora loira e sem maior significado da música brasileira, atua na faixa da Rosemery, Wanderléa (esta a procura de um melhor rumo, graças a ajuda de Egberto Gismonti), Nalva Aguiar e tantas outras carinhas bonitas que, por falta de melhor formação cultural e, principalmente, orientação profisssional, acabam sendo destruídas artisticamente em suas potencialidades. Gravando agora na Continental (setembro/78), Adriana não consegue destaque em nenhuma das faixas deste lp, onde apela para um repertório pifio, bolorento, e sem maior significado, mesmo quando apela para a dupla Roberto-Erasmo Carlos ("As Flores do Jardim de Nossa Casa", "Consideração") ou para versões ("Quando Você Partir/When you're gone" ou "O Amor que existe em mim/We're all allone", esta de Boz Scaggs). Mas o pior são as composições da própria Adriana, como "Se o Metrô Passasse Aqui" ou do novato Gibran ("Meu Erro", "O Cara").
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