Angela Maria segura o Conde prejudicado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de maio de 1987
Como Nelson Gonçalves, também Angela Maria há muito já passou da gravação do 100º elepê. Eles são cantores populares, da época em que o artista entrava no estúdio e fazia o disco praticamente numa única sessão. Substituindo a sofisticação que tornou a produção fonográfica cada vez mais cara, Nelson e Angela tem a segurança de gravarem um disco de grande aceitação em poucas horas.
Enquanto a RCA está lançando uma caixa com cinco elepês de Nelson Gonçalves - uma espécie de resposta tupiniquim ao álbum-caixa de Bruce Springsteen (CBS, caixa com 5 elepês), Angela Maria (Abelim Maria da Cunha), 59 anos - completados na última quarta-feiras, 13 de maio, 40 de carreira artística considerando que por volta de 1947 já freqüentava programas de calouros em busca de sua oportunidade, é uma cantora que não pode ser subestimada. Naturalmente, que ao longo de sua carreira fonográfica, gravando com tanta intensidade, registrou muitas músicas medíocres - do que hoje se arrepende.
Angela continua a ter um público fiel e sua voz, apesar da idade, continua firme. Aliás, muitos defendem que ela é uma das cantoras mais afinadas do Brasil, no que, inclusive, concordamos.
Hoje contratada da RGE, espaçando mais suas gravações, Angela tem procurado um repertório melhor - sem, entretanto, fugir ao estilo dor-de-cotovelo, amores frustrados & solidão amorosa que sempre marcaram a carreira da intérprete de "Bailarina".
Seu último elepê, produção de José Milton, com arranjos distribuídos entre Daniel Salinas e Eduardo Lages, é uma amostra de uma versatilidade popular que Angela sempre perseguiu. Por exemplo, ao lado de músicas de Evaldo Gouveia/ Jair Amorim ("Arrogância"), Carlos Paraná ("Queria"), "A Grande Verdade" (Marlene/ Luiz Bittencourt) e um pout pourri que inclui "Não Tenho Você" (Paulo Marques/ Ary Monteiro), "Nem Eu" (Caymmi) e "Ninguém Me Ama" (Fernando Lobo/ Antonio Maria), gravou uma experiência brega do roqueiro Cazuza ("Tapas na Cara") e da dupla Dalton/ Cláudio Rabello acrescentou ao "Velho Bolero", como música incidental, "La Mentira" (Álvaro Carrilo). Outro brega, encerrando o lado A: Odair José, autor de "Até Parece um Sonho".
Angela talvez seja uma das poucas cantoras a conseguir dar dignidade e equilíbrio a um repertório diversificado e basicamente comercial.
Afinal, não é sem razão que seu público se mantém fiel há pelo menos três décadas, quando a Sapoti gravou, justamente "Não Tenho Você", que agora regravou, com um arranjo mais sofisticado.
Em 1973, quando o empresário-diretor Altair Lima fez a produção brasileira de "Jesus Cristo-Superstar", escolheu como personagem-título um cantor pouco conhecido: Eduardo Conde. Ele havia gravado um elepê na Polygram e apesar da bonita voz, não tinha feito maior sucesso.
Nos últimos 14 anos, a carreira de Conde tem sido de altos e baixos, intercalando trabalhos musicais com os de ator, inclusive na televisão.
Agora, gravado ao vivo, temos o elepê "Certas Canções" (3M), do show dirigido por Anselmo Vasconcelos e no qual Conde se apresenta com Luiz Alves (baixo), Pena Café (bateria) e Luiz Aguilar (piano).
O disco sofre, intrinsecamente, do mal de uma gravação ao vivo. Conde tem bonita voz, o repertório é excelente, mas a insistência em intercalar as músicas com muito papo acaba cansando o ouvinte após os primeiros minutos. De qualquer forma, há boas canções, como "Dentro de Mim Mora Um Anjo" (Sueli Costa/ Cacaso), "Valsa do Maracanã" (Paulo Emílo/ Aldir Blanc), "Demais" (Tom), "Folha Morta", ao lado de outras dispensáveis - como "Mulher de Trinta" (Luiz Antonio) - que está sempre associada a Miltinho - e até um pout pourri reunindo "Lili Marlene" e "As Times Goes By".
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