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Aramis

Yana, a outra Purim, que também venceu nos States

Era janeiro de 1978. Hospedado num pequeno hotel em Westwood, um bairro de Los Angeles, próximo da Ucla University, telefono para Airto e ele avisa-me que Flora passaria para apanhar-me. Não deixava de ser emocionante rever Airto, amigo de Curitiba, e conhecer sua residência em Beverly Hills, próximo a tantas mansões de gente famosa da música e cinema (atualmente ele mora em Santa Mônica). Flora eu conhecia rapidamente, da única vez que passou por Curitiba, em 1964, quando divulgava seu primeiro elepê, feito na RCA - de uma fase inicial, que não gosta nem de lembrar. Alta, elegante, bonita em seu Ford Mustang, Flora veio apanhar-me e levou-me até a casa do casal. Uma mansão agradável - sem maior luxo, mas com o espírito musical. Amigos multinacionais - os irmãos Fattoruso, argentinos - Hugo, tecladista (hoje residindo no Rio) e o baterista George (para os quais Airto havia recém produzido o lp "Opa", Milestone Records), guitarristas, baixistas, numa sublime confusão de sons & vozes, entre o inglês, espanhol e -graças a Deus! - português. Entre tanta gente num ambiente descontraído, conheci Yana Purim. Irmã caçula de Flora, tinha chegado há poucas semanas em Los Angeles e num prosaico acidente doméstico havia quebrado a perna. Imobilizada num sofá, passava horas fazendo poemas e ensaiando a voz - já que pretendia iniciar uma carreira de cantora - com personalidade própria, sem a sombra da irmã famosa. Conversamos bastante naquela tarde que se alongou noite adentro, num clima de música, camaradagem e poesia. Poucos meses depois, já no Brasil, leio na coluna do Zózimo, no "Jornal do Brasil", que Yana havia começado a fazer shows, inicialmente com o trombonista Franco Rossolino e, mais tarde, com a banda liderada pelo saxofonista Joe Farrell. Logo depois, com seu próprio grupo, Yana faria shows em lugares famosos de L.A., como o Carmelo's, Comeback Inn, Soud Room e Roxy Theater. Exibiu-se também em universidades. Com talentos como Michel Colombier, Mal Waldron, Thad Jones e os brasileiros Egberto Gismonti e Luis Bonfá musicando seus poemas, transformava-se em autora. Flora chegou a incluir em seus lps "Every day Every nigth" e "Cary On", três músicas de Yana - "Blues Ballad", "Once I Ran Away" e "Niura Is Coming Back", que talvez, não coincidentemente, foram as faixas mais elogiadas pelas revistas Bilboard, Down Beat e Cash Box. Trabalhando com músicos notáveis, desenvolvendo um trabalho de colocar letras em temas apenas instrumentais, Yana iniciou seu primeiro lp nos EUA - com a participação do pianista Dave Frishberg, complementando-o no Brasil, com um respeitável time de músicos (João Donato, Alex Melheiros, do Azymuth e Nivaldo Ornelas). Lançado em novembro de 82, pela RCA, o lp alcançou sucesso, permanecendo dois anos em catálogo. Dividindo sua carreira entre o Rio e Los Angeles, participando de bons projetos, em julho de 1984 Yana foi a única brasileira convidada para participar do Olympic Jazz Festival, promovido pelo clube de jazz Comeback Inn, durante as Olimpíadas de L. A.. Antes, já havia lotado o famoso "SOB's", de Nova Iorque - e tendo seu disco divulgado pelas FMs de NY, abrindo inclusive caminho para outros artistas brasileiros (entre eles, Beth Carvalho, Azymuth e Alceu Valença). Agora, Yana Purim fez um novo álbum, distribuído no Brasil pelo Estúdio Eldorado, produção sua e do marido, o crítico Arnaldo Souteiro. Com duas ilustres participações - Luiz Bonfá (50 anos de carreira, há anos ausente de gravações no Brasil) e o cunhado Airto Moreira. Além de autor da faixa-título do lp, "For A Distant Love", Bonfá recria, em comovente dueto com Yana, sua mais famosa composição - "Manhã de Carnaval" (1958, da trilha do filme "Orfeu do Carnaval"). No repertório deste disco estão músicas de Yana em parceria com Hermeto Pascoal ("Bebê", que finalmente recebeu letra, 14 anos após ter sido gravado pela primeira vez), Chick Corea ("Spain"), Fátima Guedes ("Bird of Brazil", na verdade "Cheiro de Mato", com letras em inglês e transformado em samba) e Hugo Fattouruso ("Choro das Águas"). Completam o disco, duas composições de Toninho Horta ("Diana" e "Serenidade") e a maravilhosa "Minha", de Francis Hime (uma das baladas prediletas de Bill Evans, que também o gravou). Gravado com a participação de ótimos músicos brasileiros e americanos, "For A Distant Love" foi lançado quase simultaneamente no Brasil, Japão e Estados Unidos. Interrompendo contratos no Exterior, mas preocupada em ter o seu disco divulgado (e vendido, naturalmente) no Brasil, Yana vem fazendo um belo trabalho promocional - que após dar o destaque ao álbum no eixo Rio-São Paulo, espalha-se pelo Sul, com a sua vinda, neste final-de-semana a Curitiba. Desta vez sem aqui se apresentar artisticamente, mas visitando rádios e jornais, mas com este seu disco em que equilibra o que há de melhor em ritmo e música brasileira para consumo internacional, a bela e sensível Yana mostra como, em apenas 8 anos de garra e trabalho, conseguiu abrir seu espaço no mercado americano.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
10/08/1986

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