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Aramis

Acordeonistas com a música de junho Acordeonistas com a música de junho

Houve época em que junho identificava-se fonograficamente com a edição das chamadas músicas juninas - até o advento do LP, em pesados 78 rpm, depois em elepês com coloridas capas. Repertórios especiais e intérpretes populares faziam o som das festas juninas encantarem o público - depois da fase da música carnavalesca. Hoje, desapareceram os gêneros e música junina nem pensar! Entretanto, uma das características da música junina - o acordeon - permanece em sua faixa de popularidade, como prova a mais brasileira de nossas gravadoras, a Continental, agora reestruturada (mais uma vez) em termos artísticos e promocionais. Acordeon tem em Luiz Gonzaga a sua imagem maior, mas como o grande "Lua" aos 76 anos - completados no dia 13 de dezembro do ano passado - está gravemente doente, para tristeza de seus milhões de fãs (está entre os artistas mais populares e queridos do Brasil), felizmente temos o seu espaço ocupado, com dignidade, pelo seu legítimo herdeiro, o também acordeonista, compositor e cantor Dominguinhos (José Domingos de Morais, Garanhuns, 12/01/1941), que desde o início dos anos 60 conseguiu uma projeção especial, aceito inclusive pela tribo baiana e apelidado de sanfoneiro pop. Já com 25 elepês gravados, Dominguinhos não perdeu suas origens e uma prova de ecletismo está na participação do excelente álbum do tecladista Amilson Godoy - com quem iria dividir um show no Town Hall, em 16 de março, se um acidente automobilístico não o impedisse de ter viajado a Nova Iorque. A comunicabilidade deste virtuose do acordeon, com uma extrema simpatia - e que consegue esvoaçar do forró mais simples a improvisações que o fazem ser aceito em festivais de jazz - podem ser apreciados em "Veredas Nordestinas", com um repertório eclético e no qual guardou espaço inclusive para uma participação especial do mestre Gonzagão em "O Juazeiro e a Sombra". Com parceiros diversos - Fausto Nilo, Nando Cordel, Guadalupe - ou buscando temas de outros autores, Dominguinhos é todo Brasil neste belo disco. Acordeonista de uma origem diversa dos mestres nordestinos, o ítalo-brasileiro Mário (João Zandomininghi) Zan (Roscade, Veneto, Itália, 09/10/1920), comemora 50 anos de carreira artística - considerando-se sua estréia nos programas do histórico Capitão Furtado, em rádios de São Paulo. Autor de inúmeros sucessos - seu dobrado "Quarto Centenário" (1954, em homenagem a São Paulo) correu o mundo e, com maior ou menor intensidade, mantém seu público. Em 43 anos de gravações, 65 elepês, Zan está entre os instrumentistas que mais vendeu discos no Brasil - e já passam de 800 as músicas que gravou. Mostrando que aos 69 anos está em plena forma, este ano preparou três discos: Um primeiro, recriando "Os Grandes Sucessos Juninos", antologia da melhor música junina ("Chegou a Hora da Fogueira", de Lamartine Babo; "Cai, Cai Balão", de Assis Valente; "Capelinha de Melão", João de Barros / Alberto Ribeiro), entre outros clássicos e mais dois outros álbuns, na mesma linha - um deles integralmente dedicado a "quadrilha marcada", numa tentativa de preservação desta manifestação musical-folclórica, tão esquecida hoje devido aos modismos da sociedade de consumo. Mais abaixo de São Paulo, o acordeon tem uma presença significativa nas músicas que se faz em Santa Catarina e Rio Grande do Sul - campo para amplos estudos. E entre os múltiplos acordeonistas gaúchos, Albino Manique está entre os de maior popularidade, tanto é que a Continental, em sua série de reedições faz uma montagem de seus maiores sucessos ("Eu e a Acordeona") com composições próprias. Em outra região - o Nordeste - Carlos com seus irmãos Hermelinda e João, também faz sua carreira solo e em quarto LP ("Na Estrada do Amor"), traz composições na linha de lambada e forró, de sua autoria mas que assina com o pseudônimo de Oséas Lopes. Finalmente, neste breve registro de discos de acordeon, uma montagem com vários gaiteiros: "Sanfona Danada de Boa". Em seleção de Matheus Nazareth, temos Dominguinhos ("Nós Dois de Testa"), Abdias ("Mutreta Envenenada", "Pipocando"), entre outros executantes deste instrumento de imensa popularidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
22
02/07/1989

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