Acordeonistas com a música de junho Acordeonistas com a música de junho
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de julho de 1989
Houve época em que junho identificava-se fonograficamente com a edição das chamadas músicas juninas - até o advento do LP, em pesados 78 rpm, depois em elepês com coloridas capas. Repertórios especiais e intérpretes populares faziam o som das festas juninas encantarem o público - depois da fase da música carnavalesca. Hoje, desapareceram os gêneros e música junina nem pensar!
Entretanto, uma das características da música junina - o acordeon - permanece em sua faixa de popularidade, como prova a mais brasileira de nossas gravadoras, a Continental, agora reestruturada (mais uma vez) em termos artísticos e promocionais.
Acordeon tem em Luiz Gonzaga a sua imagem maior, mas como o grande "Lua" aos 76 anos - completados no dia 13 de dezembro do ano passado - está gravemente doente, para tristeza de seus milhões de fãs (está entre os artistas mais populares e queridos do Brasil), felizmente temos o seu espaço ocupado, com dignidade, pelo seu legítimo herdeiro, o também acordeonista, compositor e cantor Dominguinhos (José Domingos de Morais, Garanhuns, 12/01/1941), que desde o início dos anos 60 conseguiu uma projeção especial, aceito inclusive pela tribo baiana e apelidado de sanfoneiro pop. Já com 25 elepês gravados, Dominguinhos não perdeu suas origens e uma prova de ecletismo está na participação do excelente álbum do tecladista Amilson Godoy - com quem iria dividir um show no Town Hall, em 16 de março, se um acidente automobilístico não o impedisse de ter viajado a Nova Iorque. A comunicabilidade deste virtuose do acordeon, com uma extrema simpatia - e que consegue esvoaçar do forró mais simples a improvisações que o fazem ser aceito em festivais de jazz - podem ser apreciados em "Veredas Nordestinas", com um repertório eclético e no qual guardou espaço inclusive para uma participação especial do mestre Gonzagão em "O Juazeiro e a Sombra".
Com parceiros diversos - Fausto Nilo, Nando Cordel, Guadalupe - ou buscando temas de outros autores, Dominguinhos é todo Brasil neste belo disco.
Acordeonista de uma origem diversa dos mestres nordestinos, o ítalo-brasileiro Mário (João Zandomininghi) Zan (Roscade, Veneto, Itália, 09/10/1920), comemora 50 anos de carreira artística - considerando-se sua estréia nos programas do histórico Capitão Furtado, em rádios de São Paulo. Autor de inúmeros sucessos - seu dobrado "Quarto Centenário" (1954, em homenagem a São Paulo) correu o mundo e, com maior ou menor intensidade, mantém seu público. Em 43 anos de gravações, 65 elepês, Zan está entre os instrumentistas que mais vendeu discos no Brasil - e já passam de 800 as músicas que gravou. Mostrando que aos 69 anos está em plena forma, este ano preparou três discos: Um primeiro, recriando "Os Grandes Sucessos Juninos", antologia da melhor música junina ("Chegou a Hora da Fogueira", de Lamartine Babo; "Cai, Cai Balão", de Assis Valente; "Capelinha de Melão", João de Barros / Alberto Ribeiro), entre outros clássicos e mais dois outros álbuns, na mesma linha - um deles integralmente dedicado a "quadrilha marcada", numa tentativa de preservação desta manifestação musical-folclórica, tão esquecida hoje devido aos modismos da sociedade de consumo.
Mais abaixo de São Paulo, o acordeon tem uma presença significativa nas músicas que se faz em Santa Catarina e Rio Grande do Sul - campo para amplos estudos. E entre os múltiplos acordeonistas gaúchos, Albino Manique está entre os de maior popularidade, tanto é que a Continental, em sua série de reedições faz uma montagem de seus maiores sucessos ("Eu e a Acordeona") com composições próprias. Em outra região - o Nordeste - Carlos com seus irmãos Hermelinda e João, também faz sua carreira solo e em quarto LP ("Na Estrada do Amor"), traz composições na linha de lambada e forró, de sua autoria mas que assina com o pseudônimo de Oséas Lopes.
Finalmente, neste breve registro de discos de acordeon, uma montagem com vários gaiteiros: "Sanfona Danada de Boa". Em seleção de Matheus Nazareth, temos Dominguinhos ("Nós Dois de Testa"), Abdias ("Mutreta Envenenada", "Pipocando"), entre outros executantes deste instrumento de imensa popularidade.
Enviar novo comentário