Balsa Nova, enjeitada de hoje, herdeira do amanhã
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de setembro de 1983
Se alguém perguntar aos curitibanos aonde se localiza Balsa Nova, poucos acertarão. Por certo, há pessoas que nunca ouviram falar neste municipio. Balsa Nova dista, entretanto, apenas 45 km da praça Tiradentes (marca zero da região metropolitana), ocupa urna área de 360 quilômetros quadrados e fica a uma altura média de 685 metros. É a município que se situa parcialmente no primeiro planalto e parcialmente no segundo. Um de seus distritos – São Luíz do Purunã - está incrustrado no sopé da escarpa devoniana que divide os dois planaltos. Se hoje este municipio desnembrado de Campo Largo e instalado há 22 anos - 4 de novembro 1961 - está praticamente esquecido, poderá se tornar um grande polo dentro da região metropolitana - inclusive "adiando o futuro aeroporto internacional (e que oferece condições topográficas, climáticas e de acesso para tanto).
Uma previsão otimista para o modesto município de 5.282 habitantes e feita pela geógrafa Elin Tallarek de Queiroz, que se debruçou sobre esta esquecida comunidade para elaborar a monografia apresentada no curso de Geografia da Universidade Federal do Paraná. Sob orientação da professora Joensen Terezinha Disperati,, estudou a aspecto, dos transportes em Balsa Nova - analisando os acessos ferroviários e rodoviários, no passada e no presente, chegando as conclusões sobre o futuro deste município hoje esquecido - mas de grandes possibilidades dentro de um desenvolvimento industrial na região metropolitana.
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Em relação a Balsa Nova - que em sua modestia de micro-municipio, com uma reduzida população, perdeu, há 4 anos, até a sua estação ferroviária e os trens deixaram inclusive de ali parar?
A geógrafa Ellin Tallareckde Queiroz, após estudar a região, concluiu que pelo fato de situar-se a oeste de Curitiba, num quadrilátero formado ao norte pela BR-277, ao sul pela Ferrovia da Soja, á Oeste pelo Tronco Sul e a este pelo distritos industriais de Araucária e Campo Larga, posiciona Balsa Nava no centro da macro-eixo industrial já em implantação entre Curitiba-Ponta Orassa. A consolidação deste macro-eixo industrial com a radicação de novas industrias e a já falada construção de um aeroporto internacional metropolitano em sua área, serão razões suficientes para fazer ressuscitar a tráfego ferraviário entre Curitiba e Balsa Nova, em composições modernas (do tipo pré-metrô).
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Se a futuro pode ser otimista, as ligações ferroviárias que atinge a realidade presente é de poucas alternativas para sua popalação minguante. Por falta de opção viária, em termos de vias asfaltadas com os vizinhos, e de transporte, em termos de uma ligação direta de ônibus com Curitiba, é muita forte a dependência de Balsa Nova em relação a Campo Largo. De fato, Balsa Nova até hoje ainda não está integrada à Região Metropolitana de Curitiba (embora conste, é claro, oficialmente da Comec). É, isto sim, um município voltado aos seus interesses internos. Com exceção de Campo Largo –da qual era distrito até 1961 – praticamente não há intercâmbio com outros municípios. Os ventos da abertura econômica lá ainda não chegaram. Não fosse a PR – 510, Balsa Nova seria uma cidade praticamente isolada e fechada. O transporte de ônibus conquanto único e insuficiente, é meio de que se vale a população do município para buscar em Campo largo e Curitiba a satisfação de necessidades básicas e supletivas não encontradas na pequena cidade. Uma única empresa de ônibus faz a ligação com Campo Largo, em cinco horários diários de segunda a sexta-feira – caindo para 3 nos fins de semana.
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Apesar desta realidade desanimadora - que dá a Balsa Nova um toque de cidade-fantasma, com sua população apática e distante - a geógrafa Elin Tallarek de Queiroz, procurou ver o futura de forma otimista e assim encerra sua monografia:
"O silêncio romântico de Balsa Nova, contudo, está crescentemente interrompido pelos langos comboios ferroviários que atravessam a cidade, várias vezes ao dia, e pelos caminhões de carga, vinda e indo para a única grande fábrica da local. O ar campal da cidade, certamente será mais urna lembrança de todos quando Balsa Nova deixar de depender exclusivamente de Campo Largo, através da construção do Anel Externa, de urna ligação direta a Curitiba, via Araucária, e da ligação direta ao Sul do País, via Lapa, e ainda da reativação do tráfego ferroviário de passageiros, permitindo revelar todo o seu potencial econômico e estratégico, o que o tornará, sem dúvida, um dos mais destacados municípios da Região metropolitana de Curitiba".
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As ligações ferroviárias que atingem o município são demoradamente estudadas na monografia da geógrafa - bem com as ligações rodoviárias. Se o antigo roteiro Itapeva-Itararé-Ponta Grossa-Engenheiro Bley (construída no final do século passado) fazia-a um ponto importante, a modernização do trecho Paranaguá-Engenheiro Bley trouxe mudanças para pior - como a desativação da estação ferroviária, para carga e passageiros. A partir de 1979, a cidade passou a ser mero ponto de passagem da linha férrea (até então os trens eram mistos e faziam o percurso até Curitiba cm urna hora e quarenta minutos, numa velocidade de 36km/h). A opção ferroviária é para o transporte de carga, com a produção da fábrica Refinações de Milho Brasil SIA e a implantação do ramal ferroviário Balsa Nova-Itambé, para o escoamento da produção da fábrica de cimento Itambé.
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Em termas rodoviários, é curiosa a situação: apesar da município ser cortada, cm toda sua extensão meridional, pela BR-277, no trecho que está senda duplicada (a partir de Campo Larga, com previsão de inauguração neste trimestre), a único acesso da sede do município através de rodovia asfaltada só aconteceu a partir de 1979, com a ligação secundária Balsa Nova - Itaqui. A BR-277 pouco atende as interesses da população da município, porque só serve diretamente o distrito de São Luiz do Purunã. A sede municipal fica a 17 km do entroncamento com a rodovia principal. Não há ligação direta, por asfalto, entre Balsa Nova e os municípios vizinhos (Lapa, Araucária, Contenda).
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Em síntese, a situação de Balsa Nova é cama de certas pessoas: miséria e esquecimento no momento e a perspectiva (melo distante) de dias melhores. Como se tivesse a espera da marte de um rico parente, para herdar a suficiente e merecer uma velhice tranquila.
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