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Aramis

A Bênção de Abril (I)

Paulo Cezar Loureiro Botas, paranaense de Jacarezinho, chegou em Curitiba em 1960, para estudar no Colégio Estadual. Dono de bela voz, violonista de recursos, se identificou musicalmente com uma geração e, aos domingos, na polêmica missa que o então padre Emir (hoje o próspero psicólogo Milton Kalluf) oficiava na capela do Colégio Santa Maria, Paulo Cezar cantava uma repertório de muito bom gosto. Nos floridos anos do início da década de 60, Paulo integrou-se ao movimento de ação católica, vendo a Igreja participar dos movimentos sociais. Assim, foi um dos mais atuantes propagandistas do jornal << Brasil, Urgente >>, que um dominicano, frei Carlos Josaphat, lançou no dia 17 de março de 1963. Durante 55 semanas - o último número circulou, sintomaticamente, no dia 3 de abril de 1964 - << Brasil, Urgente>., foi um dos mais importantes jornais publicados no Brasil no campo das idéias políticas. Vinte anos depois, em << a Bênção de Abril - Memória e Engajamento Católico 1963-64 >> (330 páginas, Editora Vozes. Cr$ 4.000,00), Paulo Cezar Loureiro Botas, oferece mais do que uma contribuição à memória do nosso passado recente: nas páginas deste seu livro-tese, está uma lúcida , série e clara visão de dois anos dos mais importantes da vida política brasileira - e cujas conseqüências até hoje sente-se. xxx Para escrever << a Bênção de Abril>., originalmente como tese de doutoramento na Escole Des Hautes Estudes En Sciences Sociales, em Paris, Paulo Cezar passou mais de 4 anos trabalhando não só sobre a coleção de << Brasil, Urgente>. - exceto o número 5, que nunca conseguiu (e se alguém possuir, ele aceita a doação com a maior alegria) - mas sobre uma centena de outros textos, entre livros, revistas e documentos. O professor Claude Lefort, orientador de sua teses, insistiu para que Paulo Cezar não se perdesse numa linguagem acadêmica, e assim, apesar de sua importância estrutural - tanto é que foi aprovado com louvor - pela banca formada por Jacques Chonchol, Alain Touraine e Luiz Roberto Salinas Fortes - a leitura deste livro se faz com imensa facilidade. Uma facilidade, entretanto, que não deve ser confundida com superficialidade, pois o tratamento dado à participação religiosa entre os anos 63/64 é feita com seriedade e cuidado. xxx Frei dominicano, tendo residido em Paris por três anos, Paulo Cezar voltou a Curitiba no ano passado. A convite de seu amigo, o arquiteto Lubomir Ficinski, então secretário de desenvolvimento dos Municípios, integrou-se a um trabalho de planejamento. Apesar de sua ligação ao governo anterior, ideologicamente identificou-se ao PMDB e assim não só é hoje um dos mais seguros técnicos do Ipardes, como recebeu sinal verde do governador José Richa para desenvolver um trabalho de doutrinação acerca da << questão democrática: um desafio social>., através uma série de palestras que vem fazendo em vários segmentos do funcionalismo. Orador brilhante, bem humorado, com tiradas oportunas e acompanhando suas palestras de um texto, Paulo Cezar analisa e debate várias questões: o autoritarismo, a burocracia, o discurso sobre a austeridade. xxx Na terça-feira, 3, Paulo Cezar recebeu os primeiros exemplares de << A Bênção de Abril>., cujo lançamento oficial só acontecerá na próxima semana - mas que deverá ter uma repercussão junto à imprensa nacional a partir desta semana. Aos 39 anos - completados no dia 17 de agosto - dia como ordenado pela Província dos Dominicanos de São Paulo - mas religiosamente sem nenhuma subordinação à Arquidiocese de Curitiba - Paulo Cezar se mantém fiel aos seus amigos e às suas idéias. Excelente cantor, compositor e violonista, é uma espécie de << guru>. de Milton Nascimento, a quem auxiliou na criação da << Missa dos Quilombos>. (Ariola, 1982), participando vocalmente e fazendo o texto para o encarte. A música embora o fascine, não é um objetivo profissional. a militância política, em termos eletivos, também não. Entretanto, Paulo Cezar Loureiro Botas mostra-se otimista e feliz com o momento atual. Razão pela qual está integrado a uma política cultural e de planejamento, agora complementado com o lançamento deste seu aguardado livro-tese, << A Bênção de Abril >>, a respeito do qual, por certo, muito se falará nacionalmente. FOTO LEGENDA - Paulo Cézar: regatando a história.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
09/10/1983

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