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Aramis

Documentários sobre questões indígenas

Assim como a questão negra teve diferentes enfoques nos vídeos apresentados em Salvador, durante a XVII Jornada de Cinema (8 a 14 de setembro), também a abordagem de assuntos relacionados aos índios mereceu apreciações em vários trabalhos em competição. Confirmou-se, assim, a preocupação dos realizadores agrupados nesta mostra que Guido Araújo promove desde 1972, na utilização da força das imagens como denúncia de graves problemas sociais. A visão da questão indígena não ficou apenas em filmes e vídeos brasileiros. Por exemplo, no média "Piowachuwe", de Juan Francisco Urrusti, analisa-se o grupo Zoque, do estado mexicano de Chiapas. Infelizmente, "Wanki Lupia Nami" (Los Hijos del Rio), de Fernando Somarriba D'Vale, que em 90 minutos faz uma análise sobre os conflitos que nos últimos 7 anos têm ocorrido na Nicarágua, nos quais os índios Miskitos têm desempenhado papel importantíssimo, não chegou a tempo de exibição. Rubens Rocha, 50 anos, veterano cineasta baiano, em "Kiriri - O povo calado", mostra o clima tenso em que vive esta tribo, no distrito de Mirandela, município de Ribeiro do Pombal, na Bahia. Os Kiriris retornaram à fazenda Picos, dentro de sua reserva, em novembro de 1982, expulsando seus proprietários. Paulo César Soares em "Waia'A Xavante", vídeo de 10 minutos, fez um ensaio experimental mostrando a expressão e coreografia dos índios Xavantes durante o ritual Waia'A e sua fusão rítmica com a música de vanguarda atual. Renato Pereira, 31 anos, em "Toru Crua" (Nossa Sabedoria) aborda os Ticuna, maior etnia indígena do Brasil, que nos últimos anos vem se organizando em torno da questão da educação e por isso enfrentando resistência da política tutelar do governo brasileiro e de sua agência no canto, a Funai. "Menino de Rancho", vídeo de 16 minutos, de Cláudia Menezes, é um importante documentário: a despeito de 300 anos de violentas pressões econômicas, políticas e ideológicas por parte dos colonizadores e missionários a sociedade indígena Pankararu experimenta um processo de renovação social e através de sua vida cerimonial recria a cultura e delimita as fronteiras que os distingue dos nacionais. Uma das razões pelas quais "O Mundo Perdido de Kozák" foi bem recebido na Jornada - valendo o Tatu de Prata de melhor documentário e o Tatu de Bronze para a fotografia de Peter Lorenzo - é que a abordagem que o diretor Fernando Severo fez sobre Vlademir Kozák (1897-1979) destacou uma tríplice empatia: seu trabalho como cineasta (até agora, praticamente desconhecido nacionalmente), sua preocupação com a ecologia e com os índios (primeiro a filmar os índios Xetás, hoje extintos) e o lado biográfico. Oito filmes e vídeos focaram, direta ou indiretamente, aspectos biográficos de personalidades (ou não) em simpáticos trabalhos de resgate histórico. Por exemplo, Jorge Melquisedeque em "Camilo Poeta de Jesus Lima", vídeo de 30 minutos, recupera dados da vida e da trajetória boêmia-revolucionária do poeta Camilo de Jesus Lima, falecido em 1975, a partir do exercício da memória de seu filho, Luís Carlos Lima e da leitura de sua obra. Já Ney Costa Santos, que anteriormente havia feito um belo curta em 16mm sobre um imaginário encontro entre dois ídolos do futebol brasileiro - Garrincha e Heleno, voltou-se agora em "Afrânio, retrato instantâneo" na documentação do professor Afrânio Coutinho, sua trajetória desde os tempos de colégio até as atividades da Oficina Literária, falando de algumas idéias fundamentais. Luiz Carlos Lacerda ("Bigode"), depois do sucesso na cinebiografia de Leila Diniz, está preparando um longa sobre Aparício Torelly - o Barão de Itararé, precursor do humorismo político na imprensa brasileira. Como introdução ao projeto, Bigode realizou um vídeo de 30 minutos ("Entre sem Bater"), com o ator Buza Ferraz no personagem-título, que levou a Gramado (para exibições particulares) e agora concorreu em Salvador. Simpático, bem humorado, naturalmente, é uma antecipação do que poderá ser seu filme de longa-metragem. Roberto Santos (1928-1987), cineasta, recebeu uma homenagem póstuma no vídeo de Walkiria Barbosa/Milton Praidines, enquanto a trajetória de João Cândido, o Almirante Negro, é recuperada no belo curta de Emiliano Ribeiro - embalado na marcha-rancho de João Bosco/Aldir Blanc - um dos melhores curtas, mas que não teve premiação.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/09/1988
gostaria de receber video sobre rituais de iniciação dos adolescente indigena

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