Esperança e diálogo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de abril de 1978
Adepto da filosofia de administrar com as portas abertas, estabelecendo a política de receber bem e longamente - a todos que o procuram, está custando ao reitor Ocyron Cunha o sacrifício de suas horas de folga, mesmo nos fins-de-semana, privando-o de um dos hábitos que cultivou sempre, e que o faz, sem dúvida uma das pessoas mais estimadas na cidade: o bate-papo na porta do café Alvorada, ou na "Boca Maldita", na hora do almoço. Desde que foi engolido pelas magnificas atribuições de poderoso senhor da sexagenária Universidade, Ocyron não teve mais tempo de folga: seu expediente estende-se das 7,30 horas até, muitas vezes, as 23 horas, praticamente sem deixar o seu gabinete, improvisando lanches-expressos, para ganhar tempo.
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Mas o sacrifício (parece) estar compensando: Enfrentando uma estrutura emperradíssima, que, vitima de uma série de problemas técnico-administrativo-politicos, exige muito mais do que simplesmente um bom mecânico para ser acionada (precisa, mesmo, da troca de algumas engrenagens que foram carcomidas pela ferrugem do acomodamento), Ocyron vê, com satisfação algumas primeiras vitórias. Despindo os formalismos e preferindo o tratamento de, no máximo, "Professor" ao invés da seiscentista designação de "Magnifico", tratando, sempre que possível, as pessoas que o procuram de uma forma que o fazem sentir, nele, um velho amigo, quase de infância, arestas perigosas desaparecendo e, em compensação, a legião de voluntários a favor de uma nova Universidade Federal do Paraná cresce a cada dia.
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Uma das primeiras providencias de Ocyron foi estabelecer um contato diretor, sincero, sem protocolos, com os grandes responsáveis pela razão de existir da sexagenária Universidade: os estudantes. Ex-líder estudantil nos anos 40, adepto do dialogo franco e sincero, Ocyron, ao contrário de muitos de seus antecessores, não teme os estudantes. Ao contrário, quer entregar a eles responsabilidades, trazendo-os para auxiliarem, seja na comunicação social, no planejamento e, principalmente, na programação cultural - área em que a Universidade sempre foi a grande ausente. O auditório da Reitoria, magnificamente localizado, sempre teve uma alta taxa de ocupação, mas nunca voltado aos estudantes. Muito pelo contrário. Ocyron quer mudar esta linha.
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deixando a teoria e entrando no campo prático, Ocyron já editou um "manual do Acadêmico". Em 45 páginas reuniu informações básicas sobre como funciona - e quem está - na administração superior e setorial, os cursos de graduação, regime didático, coordenação dos cursos, cursos de pós-graduação, comunidade universitária e calendário escolar. Informações objetivas, que tanta falta sempre fizeram a professores e, mesmo alunos. Na capa uma mensagem que pela simplicidade já mostra o espirito do novo reitor: "Universitário: Este é seu guia-companheiro. Consultando-o, você terá as respostas de que precisa. Não o esqueça. Ele não exige mais do que um pequenino gesto de solidariedade. Composto para você, pretende servi-lo até o grande momento de sua graduação. Do seu amigo Ocyron Cunha".
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Muitos desafios esperam Ocyron. As esperanças nele depositadas são tantas que, ele confessa, chegam a assustá-lo. Mas o principal é que de sua visão - e de trabalho - talvez a Universidade Federal do Paraná deixe de ser a amorfa e sexagenária instituição para se transformar numa Universidade de acordo com os novos tempos.
LEGENDA FOTO 1 - Ocyron.
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