Estórias do rádio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de setembro de 1974
Funcionário da rádio Nacional durante 35 anos, 5 meses e 5 dias - só em abril último formalizou o seu pedido de aposentadoria, o compositor, cantor e homem de rádio, Paulo Tapajõs, 61 anos, é uma das enciclopédias da vida artística brasileira, uma das poucas pessoas capazes de escrever um indispensável livro sobre personalidades de nosso show bussiness como verdadeiro testemunha ocular da história artística, pois em sua longa vida na Nacional - nas [décadas] de 30 a 50, o grande centro musical do Rio de Janeiro (e em conseqüência do País) - Paulo Tapajós sempre ocupou posições de destaque, coo diretor artístico e produtor de programas do mais alto nível ("Quando os Mastros Se Encontram", "Um Milhão de Melodias" entre outras). Enquanto não se decide a escrever o seu livro de memórias, Paulo conta, em sua maneira simples e sincera de falar, estórias curiosas, picarescas ou humorísticas do rádio e seus artistas. Como por exemplo estas duas:
- Na década de 50, com a Nacional em seu apogeu artístico-comercial, assumiu a direção-geral da emissora um novo diretor. Surpreendido ao ser informado pelo diretor comercial de que todos os espaços publicitários da programação estavam preenchidos e havia clientes na fila, a espera de uma vaga para poder anunciar, ele prometeu "estudar solução". Horas depois chamou seus assessores e revelou a "luminosa idéia": a rádio Nacional não possuía dois estúdios? Possuía! Ora, então a solução era simples: transmitiria simultaneamente duas programações diferentes, podendo assim faturar o dobro. José Mauro, irmão do cineasta mineiro Humberto Mauro, na ocasião diretor artístico, perguntou ao trêfego diretor:
- O Senhor, tem telefone com extensão?
- Tenho, respondeu o diretor.
- Então experimente fazer dois telefonemas simultâneos usando a extensão.
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- Joubert de Carvalho, 74 anos, autor de dezenas de [sucessos], inclusive "Maringá", telefonou a Lúcio Rangel, outra enciclopédia musical do Brasil:
- "Saci Pererê" é de minha autoria?
- É, garantiu o autor de "Sambinhas e Chorões".
No dia seguinte, na rádio Nacional, encontrou Tapajós, e comentou:
- Sabe, estava em dúvida se "Sacy Pererê" era de minha autoria. Felizmente Fangel confirmou positivamente.
- Confirmou errado, respondeu Paulo, "Sacy Pererê" é do J. Aimbery.
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